Um relatório de especialistas da ONU advertiu que o mundo terá de avançar com transformações "rápidas e sem precedentes" nos sistemas de energia, transportes, construção e indústria" para limitar o aquecimento global a 1,5º Celsius.
Se o aquecimento "continuar a crescer ao ritmo atual", sob o efeito das emissões de gases do efeito estufa, "deve chegar a 1,5° Celsius entre 2030 e 2052", de acordo com o relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC).
Limitar o aquecimento global a quase um grau pode significar a diferença entre a vida e a morte de muitas pessoas e ecossistemas, sublinharam os responsáveis pelo documento, manifestando "pouca esperança" de que o mundo seja capaz de enfrentar este desafio.
À Renascença, Filipe Duarte Santos, especialista em alterações climáticas, diz que é possível mas não vai ser fácil. “É realmente um desafio gigantesco. É possível fazê-lo com de acordo com as leis da Física e da Química, mas com as leis da nossa economia global e de acordo com questões geopolíticas em todos os países… é um desafio muito grande que necessita do envolvimento de todos e de uma mobilização social”.
O relatório, de 400 páginas, foi divulgado na cidade sul-coreana de Incheon, após uma reunião de cinco dias, em que participaram 570 representantes de 135 países.
Este documento foi encomendado pela ONU na sequência do Acordo Climático de Paris de 2015, no qual os signatários se comprometeram a manter o aquecimento global abaixo de 2ºCelsius (C) e limitá-lo a 1,5ºC em relação aos valores do século XIX.
Este relatório deverá ser usado como base nas discussões da 24.ª conferência do clima, que se vai realizar em Katowice (Polónia), em dezembro.
A Zero sublinhou que qualquer nível de aquecimento tem "impactos adversos", mas que há diferenças se os valores são de 1,5ºC ou de 2ºC.
"Manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C significa uma diminuição das pessoas expostas a ondas de calor, chuvas fortes, secas, tempestades e inundações", assim como poder conter o aumento do nível do mar "10 centímetros abaixo do esperado até 2100, poupando as habitações de milhões de pessoas que vivem em zonas costeiras ou em ilhas".
Clima pode causar 250 mil mortes por ano
As alterações climáticas vão causar mais 250 mil mortos todos os anos entre 2030 e 2050 em todo o mundo, devido a má nutrição, malária e outras doenças ou golpes de calor, estima a Organização Mundial da Saúde (OMS).
As consequências para a saúde pública das alterações climáticas vão estar precisamente em discussão num seminário promovido pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), que pretende debater as ações para mitigar os riscos e para preparar os novos desafios.
Segundo o INSA, este seminário visa contribuir para o debate sobre as consequências para a saúde pública das alterações climáticas, "constituindo uma plataforma onde os vários setores da sociedade possam contribuir" para se adotarem medidas que ajudem a minorar o impacto das alterações climáticas na saúde pública em Portugal.
Além da mortalidade estimada pela OMS, segundo dados deste ano, os custos diretos na saúde com os danos provocados pelas alterações climáticas vão situar-se nos dois a quatro mil milhões de dólares (1.700 milhões a 3.500 milhões de euros) por ano a partir de 2030.