​Eunice Muñoz, 75 anos de “plasticina maravilhosa”
28-11-2016 - 23:54
 • Eunice Lourenço

Actriz celebrou 75 anos de carreira com anúncio de regresso ao palco do Teatro Nacional D. Maria II, em Setembro.

No palco do Teatro Nacional D. Maria II, aquele onde há 75 anos Eunice Muñoz se estreou na peça “Vendaval”, a actriz e Diogo Infante conversaram, ao fim da tarde desta segunda-feira, perante uma plateia repleta de colegas, actores, encenadores, mas também de estudantes e candidatos a actores.

Eunice começou por tentar inverter os papéis e fazer perguntas a Diogo Infante, mas depois a conversa tomou um tom bem mais sério, com a actriz a lembrar que a doença a fez recear não voltar ao palco.

Ao longo de quase uma hora de conversa, Eunice foi lembrando uma carreira longa, que começou quase por tradição familiar e em que, só aos 27, a fazer Joana d’Arc, se sentiu inteiramente actriz.

Recordou o mestre Ribeiro, que dizia muitos palavrões e que a apanhou na fase em que foi mãe, quase de seguida, de quatro filhos. “Não se pode contar com ela, está sempre grávida”, dizia Ribeirinho, que a dirigiu na Trindade.

“Já eramos actores com anos de profissão e, de repente, apareceu aquele mestre extraordinário”, recordou a actriz.

“Mãe coragem”, “Caminho para Meca” e “Zerlina” são alguns dos seus papéis preferidos, mas não esconde que gosta de fazer de tudo, das telenovelas aos clássicos ou à revista que fez com La Féria. Diz que, nestas décadas, podem ter mudado as formas de representar, mas o talento tem sempre de estar lá.

O que mais mudou para Eunice foi o público. “O público hoje é muito mais atento, mais silencioso”, disse a actriz que nunca quis encenar nem ensinar porque sente que não tem vocação. “Quero é que me dirijam a mim”, declarou.

Diogo Infante, que a dirigiu, explicou como é: “Uma plasticina maravilhosa”. “Cada vez que a Eunice me respondia a um desafio era tão fantástico …. Essa generosidade é algo que acho invulgar. Nós, actores, quando estamos em palco, porque estamos frágeis e nos sentimos despidos, criamos defesas e dar, oferecer, partilhar é um acto de coragem. E a Eunice fá-lo logo tão bem. Lembro-me de si quando sinto que estou a ser pouco generoso ou pouco flexível porque a Eunice, de facto, é uma plasticina maravilhosa na medida em que se permite moldar”, afirmou o actor e encenador.

E Eunice voltará ao palco para ser dirigida por Bruno Bravo, na peça “Rei Lear”, de Shakespeare, que deve abrir a próxima temporada do Teatro Nacional D. Maria II.

E o que mais deseja, disse, é recuperar a voz e voltar a trabalhar. Nervos, vai continuar a ter, pois 75 anos de experiência não bastam “Tenho muitos nervos … nervos, nervos, nervos. É preciso aprender a controlá-los. Para começar, rezo sempre. E, para continuar, Seja o que Deus quiser”, disse Eunice Munoz, que neste dia de aniversário de carreira também recebeu mensagens do Presidente da República e do Governo.