O encerramento das escolas em março do ano passado deu mais visibilidade às desigualdades sociais e mostrou que as escolas para além de um local de aprendizagem são um refúgio que tenta mitigar as desigualdades e as situações de pobreza. A maioria dos professores considera muito grave o aumento do risco de abandono escolar.
As conclusões são de um estudo do Conselho Nacional de Educação (CNE) no qual se mostra que as mudanças que ocorreram com o ensino à distância podem potenciar inovações quanto à organização escolar, mas também às práticas educativas.
A maioria dos directores das escolas defende que, para fazer face às desigualdades de aprendizagem originadas pelo encerramento das escolas, as turmas devem ser mais pequenas e é necessária uma revisão dos programas, que são muito extensos, tendo em conta as aprendizagens essenciais.
Os directores consideram ainda que é preciso adoptar outras medidas, como as aulas coadjuvadas, as tutorias e o apoio individualizado, mas, para isso, são preciso mais meios técnicos e humanos.
O Estudo feito pelo CNE teve como objectivo saber que dificuldades foram enfrentadas pelas escolas, quais as estratégias adoptadas , que mudanças podem ajudar as escolas a melhorar a organização interna e as praticas pedagógicas.
No que se refere à avaliação externa, há quem questione a existência dos exames e defenda que o modo de acesso ao ensino superior deve ser alterado. As escolas apontam ainda a necessidade de aumentar o número de recursos humanos, docentes e assistentes técnicos para apoiar nos recursos digitais.
A autonomia das escolas ganha agora nova importância, os directores dizem que as escolas devem ter a possibilidade de “organizar como entenderem o número de semanas tidas como necessárias para recuperar aprendizagens não realizadas, ou a organização das turmas em turnos, com a diminuição da carga horária presencial por aluno”.
Os ensinamentos com a pandemia vão ter efeitos no futuro, os professores tiveram de mudar as práticas lectivas, de serem mais criativos e o estudo indica que o Ministério da Educação deve ter consciência destas mudanças que são uma oportunidade para desafiar os professores a mudar a forma como trabalham com os alunos e até nos processos de avaliação.
Escolas sem equipamentos e maiores dificuldades no 1.º ciclo
A maioria das escolas - 92 por cento - não tinha equipamentos em número suficiente nem ligação á internet de qualidade. Em 80 por cento das escolas, a falta dos computadores por parte dos alunos afectou o trabalho realizado.
A falta de computadores foi um problema transversal, mas não afectou todos os alunos da mesma maneira e foram evidentes as assimetrias na distribuição territorial das Escolas atingidas por essa falta de dispositivos digitais. O Alentejo Litoral, o Tâmega e Sousa, o Alto Tâmega e a Beira Baixa destacaram-se como as regiões com as percentagens mais elevadas de Escolas muito afetadas.
As escolas "muito afetadas" pela falta de recursos digitais dos alunos e das famílias foram as que integravam mais alunos provenientes de contextos desfavorecidos.
Neste estudo fica-se ainda a saber que a falta de formação adequada dos professores e dos alunos para a utilização dos recursos digitais foi outra das dificuldades apontadas na implementação do ensino á distância.
Apenas 36 por cento dos professores inquiridos neste estudo tem formação em ferramentas digitais elementares, como por exemplo, as que permitem produzir documentos escritos, fazer cálculos simples ou apresentações.
Apesar de todas as dificuldades, o estudo do CNE mostra que cerca de metade dos docentes considera que o ensino à distância não comprometeu as aprendizagens e que a maioria dos alunos cumpriu com regularidade as tarefas. Mas 72 por cento consideram que houve um aumento das dificuldades de aprendizagem, a maioria são professores do primeiro ciclo.