Depois da primeira-ministra T. May ter obtido uma vitória pírrica na Câmara dos Comuns, surgiram entre nós vários comentários afirmando ou sugerindo que a UE não deveria manter a sua alegada posição de inflexibilidade. A vitória de May foi pírrica porque não apresentou qualquer solução para resolver o mais espinhoso problema das negociações da saída britânica da UE: como manter aberta a fronteira que separa a República da Irlanda do Ulster (Irlanda do Norte), que faz parte do Reino Unido.
Manter aberta essa fronteira foi um dos compromissos do acordo de sexta-feira santa, de 1998, que trouxe a paz ao Ulster. Ou seja, antes de mais, é a paz que está em causa naquela zona.
Desde dezembro de 2016 que se sabe ser este problema extremamente difícil de ultrapassar. É que, saindo o Reino Unido da UE, aquela passa a ser uma fronteira externa da Europa comunitária. Se o Reino Unido, uma vez fora da UE, aceitasse continuar a fazer parte do mercado único, não haveria problema. Mas Londres não aceita a livre circulação de pessoas – logo, não pode ficar no mercado único. Aliás, tal seria anátema para a os conservadores eurocéticos.
O líder trabalhista Corbyn defende que o Reino Unido fique numa união aduaneira com a UE, o que poderia abrir uma possibilidade de ultrapassar o problema da fronteira irlandesa. Mas a união aduaneira também é rejeitada pelos conservadores eurocéticos, que reivindicam a liberdade de Londres fazer os acordos comerciais que entender com terceiros países.
Durante dois anos os negociadores da UE e do Reino Unido não foram capazes de encontrar outra saída que não fosse a consagrada no acordo que May assinou – e a Câmara dos Comuns rejeitou por grande maioria.
T. May age, agora, como se tivesse descoberto uma solução mágica para a quadratura do círculo que é manter aberta a fronteira irlandesa pós-brexit. Mas não explica como.
Onde está, então a alegada intransigência da UE? Não se vislumbra qualquer hipótese de resolver esta questão da fronteira em termos aceitáveis para ambas as partes. E foi Londres quem solicitou sair da UE – logo, cabia-lhe o ónus de ter preparado uma solução para este caso. Mas os negociadores da UE também se esforçaram na procura de uma saída para o problema. O que aconteceu e T. May aceitou.
Agora a primeira-ministra britânica quer mudar o que negociou, mas rejeita, até, adiar a saída britânica para dar tempo a descobrir uma solução airosa para a questão irlandesa (o que duvido muito que fosse possível).
Onde está, então, a intransigência da UE?
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