Na estação ferroviária de Torres Vedras são poucos os passageiros. Duas ligações matinais foram suprimidas, o que afastou os habituais utentes. Os que ficam - meia dúzia, não mais - não têm outra alternativa para chegar aos seus destinos, nem que seja uma hora mais tarde.
É o caso de José Gonçalves. A ligação que pretendia apanhar foi suprimida. "Em dias em que posso, espero. Em dias em que não posso, pego no carro e vou", diz este utente da CP, que explica que vive na Ericeira e, de lá, chega a Torres Vedras de carro.
“É um grande transtorno”, diz outro utente, António Lopes, enquanto tenta fugir à chuva para entrar na estação. "Ainda para mais eu estou num curso. Se chego tarde, tenho falta e quase todos os dias ter de justificar faltas é complicado", lamenta.
Mas há situações mais complicadas, como a que viveu um destes dias. A idade pesa nas automotoras a diesel que já não se fabricam e que recorrentemente recolhem às oficinas.
Uma delas ficou parada na linha, numa zona de difícil acesso. Os passageiros tiveram de esperar nas carruagens que "viesse um comboio de Lisboa rebocar as composições. Às vezes, em vez de puxar, empurram", relata este utente diário da linha do Oeste.
Por norma, agora, até têm existido mais comboios do que habitualmente, explica Bianca Emiliano, também ela habitual utente da CP. "Vieram da linha do Tua, que foi eletrificada e nós ficámos com eles". Mas como são antigos, "já têm problemas. As peças destroem-se, não há renovação e há atrasos, porque os comboios param. E nós ficamos prejudicados por isso".
E sempre que há atrasos ou supressões, das duas, uma: ou recorrem a transportes próprios ou a entidade patronal é compreensiva e não se importam com os atrasos. "Mas muitas delas acabam por ter problemas no local de trabalho".
Em julho, a empresa Infraestruturas de Portugal lançou um concurso de 68,5 milhões de euros para a modernização da Linha do Oeste entre Sintra e Torres Vedras. Está a decorrer o prazo para apresentação de propostas.
"Há muito tempo que oiço falar que esta linha vai ser eletrificada. Pelo menos há vinte anos, eu acho. E não se vê nada".
Linha "não presta serviço público de qualidade"
Na terça-feira, a Associação de Defesa do Consumidor - DECO visitou a Linha do Oeste, onde detetou precisamente atrasos e supressão de comboios, tendo concluído que "não está a ser prestado um serviço público de qualidade" neste serviço ferroviário (Sintra-Figueira da Foz).
"A Linha do Oeste continua sujeita a atrasos, cancelamentos e supressão de comboios, provocada pela falta de material circulante e falta de meios humanos", refere a DECO na informação divulgada.
Na sequência de várias queixas dos passageiros, a Associação de Defesa do Consumidor visitou estações e apeadeiros da Linha do Oeste e desenvolveu um estudo baseado nos problemas que detetou junto do serviço e dos passageiros.
Segundo a DECO, os "passageiros estão constantemente sujeitos à incerteza de haver ou não haver comboio".