Morreu Zé Pedro. O histórico guitarrista dos Xutos & Pontapés tinha 61 anos e faleceu esta quinta-feira. Começam a surgir as reacções à morte de uma das principais figuras da música portuguesa.
"Era um guerreiro da alegria, da vontade de viver, de superar dificuldades, de nunca desistir. Chegou cedo demais o descanso deste guerreiro, que certamente não será esquecido por tantos e tantos amigos que deixou. Os seus primeiros passos na música coincidiram com o despertar do país para o movimento punk, tendo mais tarde fundado uma das maiores bandas de rock de Portugal, e sobretudo uma das que mais tempo sobreviveu e acompanhou várias gerações" – Marcelo Rebelo de Sousa, Presidente da República.
“O Zé Pedro partiu. Para
gerações e gerações de portugueses, ele personificou o carisma e a elegância do
rock como poucos. Podemos continuar a ouvir o som da guitarra que nos deixou,
mas nunca mais veremos o seu sorriso encantador.”
- António Costa, primeiro-ministro.
"A partida do Zé Pedro deixa um vazio irreparável, mas quero crer também que a força da Banda vencerá mais esta prova. Hoje, quero apenas prestar a minha sincera homenagem ao Zé Pedro e manifestar toda a minha solidariedade para com a família próxima e a alargada, a dos Xutos que é, afinal, um pouco também, a de nós todos. Há uns largos meses tive o gosto de falar com o Zé Pedro por telefone, para o desafiar a participar num concerto solidário em prol do projecto humanitário de apoio a estudantes sírios. Não foi surpresa a sua imediata adesão à causa, antes confirmou o que sempre soube e tive por certo, que os Xutos são diferentes, únicos e incontornáveis. Foi com muita mágoa que soube, há escassos minutos, da morte do Zé Pedro. Em 1979, na Amadora, irrompi pelo Pavilhão desportivo onde decorria uma sessão de ensaio dos Xutos. Foi assim que conheci o Zé Pedro pessoalmente, bem como ao Tim, ao Kalú e ao Zé Leonel... afinal erámos então, eles e eu, iniciantes, e estávamos a encetar as nossas carreiras, eles na música, eu na política" – Jorge Sampaio, ex-Presidente da República.
"Querido Zé, obrigado por todo o carinho e amizade que deixaste no mundo. És insubstituível e a tua partida deixa uma ferida enorme na música portuguesa e nos nossos corações. Adeus, meu querido, obrigado por todas as bonitas palavras que trocámos" - The Legendary Tigerman
"Vamos sentir a tua falta, mas viverás para sempre connosco nas memórias boas que guardamos tuas. Até um dia destes" – Carlão.
"Tive o prazer de conversar algumas vezes com o Zé Pedro. Não sou um profundo conhecedor da pessoa que é, mas sei o que fez pela música nacional. E sei o quão bem me tratou quando nos cruzámos. A palavra humildade é muitas vezes usada fora de contexto, a meu ver. No seu caso, não. Super amável, simpático e humilde. Interessado e interessante. Que descanse em Paz. Rock in Peace", Ace dos Mind Da Gap.
"Dizia que gostava de me ouvir cantar e eu até tinha vontade de chorar de o ouvir a dizer aquilo (sim tive um poster dele em miúda). Era muito apaixonada por Zé Pedro quando era miúda” – Gisela João.
"Era difícil não sorrir com ele [Zé Pedro] por perto, tal era a alegria contagiante que transportava sempre consigo. Uma das pessoas mais bonitas e carismáticas do mundo da música, do mundo todo. Um grande abraço a toda a sua família e amigos. Zé Pedro, até sempre" - David Fonseca.
“A memória do Zé Pedro ficará viva, está eternizada, não foi necessária a morte para nos lembrarmos de tudo o que ele fez durante a sua vida - que foi muito rica e fez parte da construção de algo que nós em Portugal não estávamos habituados, que é a ideia de música eléctrica, de alguém agarrar numa guitarra eléctrica e tornar-se símbolo de um país. O Zé Pedro foi pioneiro nessa acção. Depois, aliado a isso, há um lado humano que o distinguiu dos outros. Era uma pessoa muito querida que desapareceu, vejo uma pessoa cativante, um amigo, com um sorriso incrível, um sedutor, mas vejo uma pessoa muito educada. Os Xutos & Pontapés também têm essa característica como se não existisse fronteira entre uma banda e as pessoas que os vêem. Talvez por isso os pais levem os filhos a ver os Xutos. O Zé Pedro ajudou a criar uma planície entre a linha da frente e o seu amplificador e isso é alma”. - Henrique Amaro, radialista.
“Memória de um homem excepcional, de um homem bom, era um senhor da música, era um senhor da vida, era um amigo. O Zé Pedro era a imagem dos Xutos. Tive a felicidade de ser o editor deles durante muitos muitos anos, gravei o 'Circo de Feras' com eles, nunca me vou esquecer dos tempos que passei com eles”. – Tozé Brito, director da Sociedade Portuguesa de Autores, cantor, músico, produtor.
“Perdi um amigo, um grande ser humano, um coração de ouro, para mim, um santo, um bom homem, uma pessoa de empatia enorme que, apesar da sua paixão louca pela música e pelo Rock and Roll, e tudo o que gira à volta disso, nunca perdeu os valores da amizade, da solidariedade e do perdão" - Luís Montez, director do Música no Coração.
“É um dia muito triste, era uma pessoa que toda a gente gostava, extremamente afável com uma simpatia fora do normal. Encontrámo-nos várias vezes na estrada, temos uma relação de amizade muito antiga uma vez fiz o sound check com eles enquanto o Kalú não chegava. Os Xutos nunca fizeram sentido sem o Zé Pedro, é uma banda que eu sempre gostei imenso, recordo os grandes concertos que faziam no ‘Rock Rendez-Vous’, é uma banda de culto e continua a ser” – Tóli César Machado, dos GNR
"Eu recordo o Zé Pedro enquanto uma pessoa maravilhosa. Privei muito com ele, tínhamos muitas aventuras, tocámos juntos muitas vezes, viajámos juntos, e o Zé Pedro foi sempre uma pessoa com uma personalidade incrível, de uma grande generosidade, um carácter muito generoso e um carácter muito grandioso. Ele tinha um sentido de justiça enorme. Era uma pessoa com enorme sentido de justiça, que gostava de praticar o bem. Sentia-se mesmo isso nas suas atitudes. Tentava sempre ajudar os outros. Tinha sempre uma palavra de amizade, de compreensão nos momentos difíceis" - Alexandre Cortez, músico fundador dos Rádio Macau
Zé Pedro era "uma pessoa de uma bondade extrema, uma figura da música portuguesa, um exemplo. O seu percurso com os Xutos, a forma como criou os Xutos, a forma como lutou para que os Xutos tivessem um nome e a forma como, depois de os Xutos se tornarem numa referência da música moderna portuguesa, do rock em Portugal, a forma como lidou bem com a fama sem nunca se trair a si próprio". Adolfo Luxúria Canibal, vocalista dos Mão Morta.
“Zé Pedro, guitarrista e fundador dos Xutos & Pontapés, contribuiu de forma decisiva e inovadora para a história da música electrónica em Portugal e para o sucesso continuado de uma das mais prestigiadas bandas rock nacionais. O seu entusiasmo, carisma e empatia deixaram uma marca indelével no panorama musical português, com músicas que acompanharam várias gerações, que o admiram com reconhecida ternura. Dotado de um sentido musical notável, a música foi o seu sonho desde cedo e com ela conseguiu transformar o universo do rock português, a par da vida de muitos milhares de pessoas. Desde os ensaios na garagem de casa do seu Avô, ainda adolescente, até aos dias de hoje, em grandes palcos portugueses e estrangeiros, o músico teve uma vida intensa e uma brilhante carreira ao longo de quatro décadas. Zé Pedro, que dizia ter sempre as mãos ocupadas com a guitarra, deixa-nos canções, como o ‘Ai a minha vida’, ‘À Minha Maneira’ ou ‘Contentores’, que inspiram também um retrato especial do país e de um certo modo de ser português” - Luís Filipe de Castro Mendes, ministro da Cultura
"Zé Pedro nunca desistiu, foi um lutador até ao final, tendo perdido a batalha da vida esta quinta-feira. O Benfica associa-se a este momento de pesar, endereçando as mais sentidas condolências a familiares e amigos" – SL Benfica.
"Zé Pedro esteve presente na última gala Quinas de Ouro, organizada este ano pela Federação Portuguesa de Futebol, como representante da banda que teve no tema 'A minha casinha' o hino oficioso da 'equipa das quinas' nos últimos dois Campeonatos da Europa, em que Portugal conseguiu atingir o terceiro lugar (Polónia/Ucrânia 2012) e o título de campeão (França 2016)" - FPF.
Zé Pedro estava doente há vários meses, mas a situação foi sempre mantida de forma discreta pelo grupo, tendo só sido assumida publicamente em Novembro, a propósito do concerto de fim de digressão dos Xutos & Pontapés, no Coliseu de Lisboa.
José Pedro Amaro dos Santos Reis nasceu em Lisboa, em 14 de Setembro de 1956, numa família de sete irmãos, "com um pai militar, não autoritário, e uma mãe militante-dos-valores-familiares", como recordou num dos capítulos da biografia "Não sou o único" (2007), escrita pela irmã, Helena Reis.
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