No discurso mais duro e violento desde que deixou funções como presidente da República e saiu do Palácio de Belém, Cavaco Silva apontou o dedo ao Governo e a António Costa, que acusa de ser “incompetente” e “mentiroso” e de pôr o país num "caminho de degradação política".
No encerramento do Encontro Nacional de Autarcas do PSD, este sábado, Cavaco Silva voltou à arena da política e não poupou critícas ao Executivo socialista e dispara que "o Partido Socialista e o seu Governo" colocaram "o país na trajectória de empobrecimento e profunda degradação da política nacional".
O discurso foi arrasador para a governação de António Costa, que Cavaco acusa mesmo de não estar a cumprir a Lei Fundamental:"Um primeiro-ministro que perdeu a autoridade e não desempenha as competências que a Constituição lhe atribui: dirigir o funcionamento do Governo e a política geral do Executivo e coordenar e orientar todos os ministros. São competências que os analistas políticos parecem ter esquecido”, dispara sobre Costa.
Em 51 minutos de discurso, Cavaco Silva lançou farpas e sugeriu mesmo que Costa tenha um "rebate de consciência e se demita". Em princípio, a atual legislatura termina em 2026, mas às vezes, os primeiros-ministros, em resultado de uma reflexão sobre a situação do país, depois de um rebate consciência, decidem apresentar a demissão e dar lugar eleições antecipadas". "Foi o que aconteceu em março de 2011”, lembrando a demissão de José Sócrtaes após o chumbo do PEC IV.
Numa intervenção arrasadora, Cavaco Silva diz que encontra "seriamente preocupado com as consequências da governação do PS", um partido que "passa a vida a mentir" e que "nunca desceu tão baixo”.“Ainda se pode acreditar num o Governo que passa o dia a mentir?”, questionou.
Cavaco não poupou nas farpas lançadas e diz que “existem duas áreas em que a governação socialista é especialista: mentiras, na propaganda e truques”. "Perguntem aos portugueses se alguma vez pensaram que era possível descer tão baixo em matéria de ética política e desprezo pelos interesses nacionais”, atira, numa clara referência aos últimos casos que têm abalado o país, como é o caso "Galambagate" e todo dossiê da TAP.
“O governo de António Guterres deixou o país no pântano. O governo de José Sócrates deixou o país na bancarrota. O governo de António Costa vai deixar ao próximo governo uma herança extremamente pesada“, afirma.
Num regresso a um evento organizado pelo partido Social Democrata, Cavaco discursou violentemente sobre o PS e para o Governo, que acusa de "ser uma oligarquia que se considera dona do Estado". “A situação de salários baixos e de pensões de reforma não permitem uma vida digna, o empobrecimento da classe média, a má qualidade dos serviços públicos, como a educação, a saúde e a justiça, são o resultado das políticas erradas do Governo, da sua desarticulação e desnorte, da falta de rumo e da falta de visão estratégica”, acrescentou.
"O PSD é inequivocamente a única alternativa credível ao poder"
Ao discursar no final do encontro que decorreu em Lisboa, o ex-primeiro-ministro e Presidente da República acredita que Montenegro e "o PSD tem apresentado alternativas que permitem inverter a politica económica e melhorar a vida dos portugueses”.
Por várias vezes no discurso, Cavaco fez questão de dizer que o PSD já é "alternativa política", chegando mesmo a dizer que o partido liderado por Luís Montenegro "é a única verdadeira alternativa" aos socialistas.
Esta insistência no discurso da "alternativa política" que já existe no PSD pode ser interpretado como uma resposta a Marcelo Rebelo de Sousa que tem usado como critério a ausência de uma alternativa à direita para não dissolver o Parlamento.
Aliás, Cavaco carrega nas tintas e diz mesmo que "é totalmente falsa a afirmação de que o PSD não tem apresentado alternativas". Se Marcelo ainda tiver dúvidas, este ex-líder do partido está pronto para lhas desfazer.
Se o discurso foi por um lado arrasador para Costa e o PS, por outro estendeu a passadeira e os maiores elogios a Luís Montenegro a quem Cavaco Silva deu a estratégia política para o imediato. Desde logo, "é no Governo socialista que o PSD deve concentrar a sua atenção, não deve dispersar a sua energia com outros partidos, nem responder às provocações que deles possam vir".
Ou seja, Cavaco aconselha o PSD a ignorar o Chega e os constantes desafios e provocações deste partido. Para o antigo líder social-democrata é "totalmente falsa" a ideia de que Montenegro sofra de qualquer "ambiguidade" em relação a André Ventura.
O PS esse "sim é que precisa de esclarecer o manto de ambiguidades em que está escondido", atira Cavaco Silva, desafiando os socialistas a esclarecer a relação com o PCP e o Bloco de Esquerda, partidos que "contribuiram para os baixos salários".
Ao PSD, Cavaco aconselha a que não cometa "o erro" de "anunciar pré-coligações, tendo em vista as próximas eleições legislativas", com o ex-líder a atirar: "Por que é que o PS não o faz e o PSD o deve fazer?"
"O Governo é um vazio. A palavra socialista é apenas um slogan. A ação do PS resume-se a manter-se no poder e controlar o Estado sem olhar a meios", resume o ex-líder. Por oposição, o PSD "está preparado para assumir o Governo" se a isso for chamado. "Numa democracia não há vazios de poder", despacha Cavaco.
A Luís Montenegro, o ex-lider do PSD faz um enorme elogio, dizendo que "tem mais experiência" que o próprio Cavaco Silva tinha quando assumiu o partido e "está tão bem preparado" como o ex-presidente do partido estava quando chegou ao poder.
Com a sala de um hotel em Lisboa cheia que nem um ovo e num ambiente de pré-chegada ao poder, Cavaco Silva definiu o ponto em que o partido está: "Falta convencer 8% a 9% de eleitores para obter o mesmo resultado" que deu a maioria absoluta ao PS em 2022. E a mensagem é que esse patamar "não é impossível de alcançar". Mas, "dá trabalho", ressalva.
Fica outro conselho à direção do PSD: o partido "não deve ir a reboque de moções de censura de outros partidos mais preocupados em ser notícia na comunicação social". O ex-primeiro-ministro lembra a "mais de uma dúzia" de moções de censura apresentadas ao longo dos anos e "só uma teve sucesso". Precisamente, a que lhe deu a primeira maioria absoluta em que obteve mais de 50% dos votos.
Dada a cartilha, a sala explodiu num aplauso a um ex-líder que se diz "seriamente preocupado com as consequências para o país da governação do PS", pedindo a "todos que sejam veículo da esperança". E a Montenegro, pediu diretamente "transparência e ética política".“O PSD e a sua liderança tem vindo, e bem, a denunciar os erros, os abusos de poder, as mentiras, e a falta de ética política do Governo e falta de sentido de Estado”, apontou. “O doutor Luís Montenegro tem mais experiência política do que eu tinha quando eu subi a primeiro-ministro em 1985, e está tão ou mais bem preparado do que eu estava”.
Veja o discurso completo aqui: