Depois de Donald Trump ter anunciado, a 18 de março, que acreditava que iria ser detido, o ex-presidente norte-americano foi mesmo acusado oficialmente por um tribunal em Nova Iorque, mas não foi preso. Trump torna-se assim o primeiro antigo chefe de Estado norte-americano a enfrentar acusações criminais.
A acusação, como o próprio tinha referido, deu-se na sequência de uma investigação judicial à suspeita de que teria realizado, em 2016, um pagamento de 130 mil dólares à atriz pornográfica Stormy Daniels, com o objetivo de a silenciar sobre um alegado relacionamento extraconjugal que terá ocorrido em 2006.
A notícia da acusação foi avançada na noite desta quinta-feira por vários jornais e canais de televisão dos EUA e confirmada pouco depois por Joe Tacopina, advogado de Trump, entre outras fontes. A acusação deverá ser anunciada oficialmente nos próximos dias, sendo que, neste momento, as acusações específicas ainda não foram tornadas públicas.
A decisão, por votação, do grande júri, encerra a investigação do gabinete do procurador distrital de Manhattan, Alvin Bragg, que durou mais de cinco anos e que passou por outros procuradores.
Os contornos da investigação já eram mais ou menos conhecidos há cinco anos, quando o ex-advogado pessoal de Trump, Michael Cohen, foi condenado por evasão fiscal e violação da lei federal de financiamento da campanha eleitoral (presidenciais de 2016) relacionados com o pagamento a Daniels. No processo em questão, os investigadores acusaram Cohen de ter agido por ordem de Donald Trump, que reembolsou o advogado através de pagamentos em cheque (quando já era presidente). Documentos do tribunal, no caso federal de Cohen, referiam que a Organização Trump descreveu falsamente os pagamentos como despesas legais.
Em suma, Donald Trump não será acusado pelo pagamento em si, mas porque, segundo o procurador, terá falsificado as contas da empresa para registar o pagamento em questão como honorários. Assim, neste caso, os procuradores sustentam que o reembolso violou a lei estatal.
Segundo o jornal New York Times, o gabinete do procurador de Manhattan deverá entrar em contacto com os advogados de Trump, que deverá ter de realizar recolha de impressões digitais e outros procedimentos nesse momento.
De acordo com a CNN, a equipa de Trump foi "apanhada de surpresa" com o anúncio da acusação.
O advogado de Trump, Joe Tacopina, já tinha indicado, aquando das declarações de Donald Trump sobre a possibilidade de vir a ser detido, que, caso fosse emitido um mandado de detenção, o ex-Presidente dos EUA iria colaborar com as autoridades.
“Isto é perseguição política e interferência eleitoral", acusa Trump
Pouco depois de a noticia ter sido conhecida, Trump reagiu em comunicado, referindo que "isto é perseguição política e interferência eleitoral ao mais alto nível da história”, e reiterando que é “completamente inocente”.
“O nosso Movimento e o nosso Partido – unido e forte – vai primeiro derrotar Alvin Bragg e depois derrotaremos Joe Biden”, assegura.
Por sua vez, o advogado de Stormy Daniels, Clark Brewster, escreveu no Twitter que a acusação não é “motivo de alegria”, contudo, destaca o “trabalho árduo e consciente” do júri de Nova Iorque, concluindo: "agora, que a verdade e a justiça prevaleçam" e que "ninguém está acima da lei”.
Anteriormente, Trump já tinha sugerido que poderia vir a ser detido. "Se as divulgações da imprensa estiverem corretas, esta pode ser a última vez que vos escrevo antes de uma possível acusação", referia Trump numa das mensagens partilhadas à data. O ex-presidente agradeceu ainda o apoio dos "patriotas" que aderiram ao seu movimento "America First" iniciado há oito anos, quando "toda a imprensa e o 'establishment' diziam que estávamos fadados ao fracasso".
Quando sugeriu que poderia vir a ser detido, Donald Trump pediu aos seus apoiantes que se reunissem em protesto antes da detenção, o que levou a polícia de Nova Iorque a alertar os agentes para estarem preparados para uma operação especial, com receio de que algo parecido com a invasão ao Capitólio voltasse a acontecer.
O ex-presidente dos Estados Unidos tinha ainda alertado, na semana passada, para um possível cenário de "morte e destruição" no país caso a procuradoria de Nova Iorque o prosseguisse com a acusação.
Trump tinha publicado uma mensagem na sua própria rede social, Truth Social, em que afirmava que o procurador distrital de Manhattan o estava a acusar sem factos para suportar o processo.
"Que tipo de pessoa pode acusar outra, neste caso um ex-presidente dos Estados Unidos (...) de um crime, quando todos sabem que nenhum crime foi cometido, e quando também sabem da potencial morte e destruição que esta acusação falsa pode provocar, sendo catastrófica para o nosso país?”, escreveu Trump na mensagem, referindo-se implicitamente ao procurador Bragg, a quem chamou de “psicopata degenerado que realmente odeia a América”.
No dia 20 de março realizou-se também um protesto junto ao tribunal criminal de Manhattan, convocado pelo 'New York Young Republican Club', após o grande júri ter ouvido as últimas testemunhas do caso de alegados pagamentos a Stormy Daniels.
Apesar da fraca adesão, a Polícia de Nova Iorque naquele dia reforçou a segurança junto ao tribunal e monitorizou várias contas nas redes sociais em busca de convocatórias para protestos.