São cerca de 400 mil as pessoas que diariamente contam com a ajuda desta instituição de solidariedade social, que recebe cada vez mais pedidos de trabalhadores cujo salário não chega para cobrir as despesas.
O alerta feito na Renascença por Isabel Jonet, a presidente da federação dos bancos alimentares contra a fome.
“O número de pessoas que são apoiadas mantém-se nas 400 mil. Estas precisam de ajuda do Banco Alimentar e recebem ajuda diariamente. Temos ainda agora muitos trabalhadores pobres, ou seja, pessoas que trabalham que têm o seu salário, mas que aquilo que recebem o seu rendimento familiar não chega para todas as necessidades do agregado”, descreve Jonet.
Isabel Jonet revela também que há cada mais instituições de solidariedade social a pedir ajuda ao Banco Alimentar.
“Os bancos alimentares trabalham em parceria com instituições e estas instituições, elas próprias, pedem-nos mais ajuda, uma vez que os acordos com a Segurança Social ainda não foram renegociados.
A Campanha do Banco Alimentar contra a Fome arranca hoje e prolonga-se até domingo em mais de dois mil superfícies comerciais de norte a sul do país.
"Mesmo que seja só com alimentos mais baratos, qualquer contribuição é boa"
As lides de voluntariado não são estranhas para Cátia Ferreira. Apesar de ser a primeira vez que está a recolher alimentos num supermercado, é voluntária no armazém do Banco Alimentar contra a Fome de Lisboa há vários anos.
Mesmo num contexto de inflação “que dificulta muito a vida das pessoas”, Cátia está otimista com a campanha deste ano.
“Acho que as pessoas são a contribuir bastante e ainda bem, porque é cada vez mais necessário. Mesmo que seja só com alimentos mais baratos, qualquer contribuição que seja é bom. Vai ajudar alguém”, conta à Renascença, enquanto arruma mais um carro cheio com doações de alimentos.
Mais à frente, junto à linha de caixas desde supermercado em Lisboa, está Carla Barata. É a primeira vez como voluntária numa campanha do Banco Alimentar – um convite que aceitou “com muito agrado”.
Apesar de ter feito apenas um turno de recolha de alimentos, Carla diz já ter percebido quem está mais disposto a participar na campanha.
“As pessoas que ajudam mais são aquelas que parecem estar sozinhas e até mais dificuldades. Não vejo pessoas com carros grandes a vir deixar sacos com comida. Acho que as pessoas com menos possibilidades são aquelas que estão mais preocupadas – se calhar, porque já estão a sentir isto na pele”, explica.
Logo ao lado, está o filho Eduardo, de 16 anos. Aproveitou o feriado para poder contribuir para uma causa que o deixa “feliz, ao ver o sorriso na cara de todos aqueles que nos deixam alimentos”. E, quando tira a camisola de voluntário para ir finalmente descansar, aproveita ainda para deixar um apelo: “não digam ‘ah, sou só uma pessoa, não vale a pena ajudar’. Vale sempre. Se todos pensarmos assim, não chegamos a lado nenhum”.
Quem não hesita em ajudar é Maria Machado. Já reformada – e com uma pensão “três vez mais pequena do que o salário que tinha no ativo” – não quer deixar de ajudar, principalmente porque sabe que “os preços aumentam de dia para dia e os rendimentos continuam muito baixinhos”.
Alex Dexa sente isto na pele. Quis contribuir para a campanha por se sentir na obrigação de “ajudar a aumentar o bem-estar de quem tem menos possibilidades”, mas sai do supermercado desanimado – gostava de “poder dar mais”, mas com “a perda de poder de compra tornou-se impossível, com muita pena”.
Patrícia Dias lembra-se bem das manhãs passadas a recolher alimentos para o Banco Alimentar, quando era escuteira, ainda em criança. Agora a trabalhar, não falha nenhuma das campanhas da instituição.
“Antes doava com os meus pais e agora, que já trabalho, tento continuar a fazê-lo. Tento sempre ajudar o máximo que posso, principalmente quando vejo todas as necessidades que os mais pobres passam no nosso país”, remata.