O primeiro-ministro acusou esta segunda-feira o líder do Chega de cobardia, após André Ventura ter divulgado um vídeo nas redes sociais em que simula ter colado um cartaz crítico no gabinete do PS quando na verdade estava numa porta da bancada do PSD.
"Em matéria de comediante, nem pretendo competir com vossa excelência. Todos tivemos oportunidade de assistir à sua exibição agora e, quem não viu, teve oportunidade de ir ver ao Tik Tok o número que senhor fez onde, com a música da pantera cor-de-rosa, fingiu que me ia insultar, a mim e ao Grupo Parlamentar do PS, mas teve a cobardia de ficar a meio caminho e de pôr o papelinho no Grupo Parlamentar do PSD", afirmou o primeiro-ministro.
António Costa falava no parlamento, no debate sobre o Orçamento do Estado para o próximo ano, em resposta a um pedido de esclarecimento do líder do Chega.
O primeiro-ministro disse também que não iria autoavaliar como chegou ao debate, mas considerou também que André Ventura "saiu muito mal".
Em causa está um vídeo partilhado na rede social Tik Tok, no qual André Ventura sai do seu gabinete na Assembleia da República e simula que cola um cartaz junto à porta da sala do Grupo Parlamentar do PS, mas afinal era a do PSD. O papel, em tons de vermelho, tinha uma caricatura do primeiro-ministro e uma mão e nele pode ler-se "A terceira mão do PS. Contra o IUC".
Na sua intervenção, o presidente do Chega afirmou que o primeiro-ministro não chegou ao debate orçamental como comediante, "mas podia ser", e considerou que o Governo está "muito mal" quando diz que Portugal "está muito bem e a convergir".
Ventura defendeu que o país está "cada vez mais na cauda da Europa".
Na sua primeira intervenção no debate sobre o Orçamento do Estado para 2024, na qual gastou o dobro do tempo previsto, o líder do Chega afirmou que, em 2020, Portugal era o "15.º país da União Europeia em poder de compra e, em 2022, era o 21.º ou o 22.º, se se considerar a Roménia".
"Pior que nós só a Letónia, a Croácia, a Grécia e a Bulgária. Tenha vergonha de nos pôr atrás de países que há alguns anos nem linha de comboio tinham", atirou, questionando de seguida: "Vem dizer que estamos a convergir? Mas estamos a convergir com quem? Com os Camarões, o Azerbaijão, o Botswana?".
"Eu queria convergir com a Alemanha, com França, com Itália. O senhor primeiro-ministro parece querer convergir com a Índia, o Bangladesh, Moçambique e os Camarões", criticou.
Na resposta, na qual gastou cerca de um terço do tempo de André Ventura, o primeiro-ministro abordou a situação da economia portuguesa e salientou que Portugal está "mais próximo dos países mais desenvolvidos da União Europeia".
"Entre 2015 e 2022, Portugal aproximou-se sete pontos percentuais da França, oito pontos percentuais da Alemanha e nove pontos percentuais da Espanha", indicou.
António Costa defendeu também que "Portugal não empobreceu, Portugal aumentou o PIB per capita ao longo destes anos", o que aconteceu "apesar de a população portuguesa estar a aumentar, enquanto outros países, como por exemplo a tão citada Roménia, nos últimos 20 anos ter perdido mais de 15% da sua população".
Na sua intervenção, André Ventura considerou também que o Governo alegar que o orçamento não aumenta impostos é "uma mentira" que "nem a quarta aparição de Fátima perdoará" e acusou o primeiro-ministro de, a cada ano, "mentir mais e mais".
"Eu sei que no, momento em que estamos, o senhor primeiro-ministro não pode prometer muito, mas não faltar à verdade não era mau", defendeu, acusando o Governo de dar "com uma mão uma parte do IRS e tirar com duas o resto".
O líder do Chega voltou a criticar o aumento do Imposto Único de Circulação, mas também sobe o tabaco, o álcool ou do ISP (Imposto Sobre Produtos Petrolíferos), considerando que o Governo "prometeu baixa, baixar, baixar", mas "não tem feito outra coisa senão aumentar, aumentar, aumentar".
André Ventura abordou também o veto do Presidente da República ao diploma sobre a privatização da TAP, considerando que não é "um veto qualquer".
O deputado assinalou que algumas das críticas de Marcelo Rebelo de Sousa prenderam-se com "a falta de transparência" e não ser conhecido o valor pelo qual a companhia aérea vai ser vendida, mas não teve resposta por parte de António Costa sobre este assunto.