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O presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social, D. José Traquina, explicou à Renascença que as diversas Cáritas Diocesanas espalhadas pelo país têm recebido “milhares” de pedidos de ajuda por parte de famílias em situação de carência económica e de habitação.
“Em 2017, chegaram muitos milhares de pedidos às Cáritas Diocesanas para situações de pessoas endividadas, questões que têm a ver não só com a sua vida, mas com a sua residência. Questões que têm a ver com a sua dificuldade em responder aos compromissos e com situações de despejo”, lembrou.
Reagindo à reportagem da Renascença “Mães Ocupas”, que revela a história de três mães solteiras, Ana, Jéssica e Vanessa, que ocuparam (ou pensam ocupar) apartamentos vazios detidos pela Câmara de Lisboa, D. José Traquina pede "reflexão" quanto à figura da mulher em situações limite como a ocupação.
“No que diz respeito a estas situações de pobreza, relacionadas com as mães solteiras, uma das características da pobreza em Portugal é a feminização da pobreza. Ainda é muito sobre a mulher, a mulher-mãe e a mulher jovem que recai esta dimensão da pobreza. E isto deve fazer-nos pensar e refletir.”
O também bispo de Santarém e antigo bispo auxiliar de Lisboa, recorrendo aos indicadores do Instituto Nacional de Estatística, que apontam que 23,3% da população portuguesa está em risco de pobreza, explica que “os rendimentos económicos dos pobres são inferiores aos do início da crise”, em 2008.
D. José Traquina garante: “Se houve melhoria económica, não chegou aos mais pobres. E isto é preciso levar a sério pelas instituições próprias”.
As “instituições próprias” são, também, as instituições do Estado e as autarquias. Também nestas há ainda “uma cultura da indiferença e do descarte”, lamenta D. José Traquina, “e isso chega aos pobres de uma forma impressionante”.
“Há muita irresponsabilidade e muita indiferença na sociedade, sobretudo nas grandes cidades como Lisboa, onde estão as pessoas com maiores rendimentos, mas também um grande número de pessoas que são pobres e vivem em situações muito, muito complicadas”, lamenta.
D. José Traquina espera que situações como as de Ana, Jéssica e Vanessa sejam “temporárias”. “Mas para que seja temporário é preciso que as instituições de poder, que têm o poder governativo e o poder de gestão da economia, estejam na disposição de rever o rendimento das pessoas."
E conclui: “Não se percebe que Portugal seja dos países europeus onde a diferença de rendimentos entre os mais ricos e mais pobres é maior. É preciso coragem de quem governa, de quem decide, e perceber que as coisas não estão bem”.