Em carta-aberta ao ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, o sócio-gerente da Padaria Portuguesa, Nuno Carvalho, faz um apelo vigoroso ao Governo: ou o regime de lay-off é simplificado e a liquidez chega à empresa num curto espaço de tempo, ou aquela cadeia de padarias estará em risco de encerrar.
“Perante uma inesperada e abrupta quebra de faturação, pela primeira vez na história da nossa empresa, as receitas deixaram de ser suficientes para cobrir os custos operacionais e, claro, os encargos financeiros. Mantendo-se este cenário, já no próximo mês não teremos capacidade financeira para pagar salários aos mais de 1200 colaboradores“, lê-se na missiva enviada ao Executivo, citada pelo Eco e o Jornal Económico.
Uma mão cheia de nada
O gestor argumenta que desde o dia 13 de Março, o negócio teve quebras de 50% e, desde que foi decretado o estado de emergência, as reduções são superiores a 60%.
“Se por um lado estes números são positivos por representarem uma manifesta adesão da população à necessária quarentena, por outro lado, numa perspetiva empresarial, são números verdadeiramente desastrosos e que põem em causa a viabilidade do negócio e comprometem, já no curto prazo, a resposta aos compromissos com os colaboradores, com os fornecedores e até com o próprio Estado”, refere na mesma carta.
Carvalho considera que as medidas apresentadas pelo Governo para o setor da Restauração, “apesar de certamente bem intencionadas, não resolvem os problemas urgentes que as empresas enfrentam”.
“A conclusão é triste e a todos causa uma enorme decepção: as medidas apresentadas são ineficazes e de forma alguma oferecem soluções para os problemas de curto prazo que enfrentamos. São…uma mão cheia de nada”, qualifica.
Erros na gestão económica da crise
O mesmo empresário enumera depois o que considera serem erros do Governo na gestão da crise na economia. Argumenta que “o lay-off simplificado é tudo menos…simplificado”, e é de interpretação dúbia .
“Não permite a uma empresa como A Padaria Portuguesa, que vinha com crescimento homólogos de negócio na casa dos 1,5%, utilizar este instrumento que, mais do útil, é crítico nesta fase para mantermos a nossa atividade, pagarmos salários aos nossos colaboradores, pagarmos faturas a fornecedores e pagarmos impostos ao Estado”, elucida.
O critério que exige comprovadas quebras superiores a 40% durante 60 dias é no entender deste gestor irrealista. “Significa, no caso da A Padaria Portuguesa, que, ao ritmo atual da quebra de vendas, apenas no fim de Abril estaríamos aptos a utilizarmos o mecanismo do lay off. Mas quem paga os salários e as contas dos fornecedores até lá?! Com que dinheiro?”, pergunta.
O gestor quer que a medida do lay off possa ser utilizada de imediato para quem tem quebras atuais superiores a 40%.
“O processo de candidatura tem que ser claro e não gerar dúvidas. Estamos a trabalhar com três sociedades de advogados e todos têm uma visão diferente sobre as regras do lay off simplificado. É assim que o Governo quer ajudar as empresas a manter a atividade económica?! É por isso urgente uma clarificação das regras da lei do lay-off simplificado”, pede o empresário.
De seguida, aponta baterias aos bancos. Até começa por dizer que as linhas de crédito lançadas “são um excelente instrumento para ajudar a tesouraria nesta fase”, mas depois questiona: "Terá sentido as condições de spread que os bancos estão a fazer?”.
Carvalho queixa-se dos bancos estarem a praticar spreads de 3% quando o BCE ficou taxas de juro de -0,75%. “É razoável os bancos aproveitarem esta crise para fazer negócio desta forma?! E a burocracia que o processo de candidatura envolve?! Quando é que o dinheiro entra nas contas da empresa? Com que dinheiro pagamos as contas até lá?!””, questiona.
Um dos donos da Padaria Portuguesa pede ao Estado que injete capital fresco de imediato nas empresas e confie nos empresários “que têm acrescentado valor ao país e sempre têm sido responsáveis nos seus compromissos e obrigações”.
“Caso isto não aconteça no prazo mais curto possível, teremos que apagar a luz. E mesmo que, no futuro, os sócios tentem recriar a empresa, milhares de famílias sofrerão com o desemprego”, remata.