No passado dia 16 de outubro, uma semana depois do terrível ataque do Hamas, escrevi aqui: “O ataque terrorista do Hamas provocou um profundo trauma em Israel. Humilhados, os dirigentes israelitas procuram superar esse trauma pela vingança implacável, sem contemplações para com o direito ou a moral." É ao que estamos a assistir.
Aquela previsão era óbvia para quem tem seguido ao longo dos anos o conflito entre Israel e os palestinianos. Não é só agora que Israel não cumpre resoluções da ONU. A multiplicação de colonatos judeus em território da Cisjordânia iniciou-se há muitos anos; agora um dos extremistas que partilha o governo de Netanyahu entrega metralhadoras aos colonos israelitas, para se “defenderem dos palestinianos”.
Raras vezes surge em Israel um político realmente empenhado na paz. Aconteceu quando Yitzhak Rabin era primeiro-ministro. Mas durou pouco essa esperança: Y. Rabin foi assassinado em novembro de 1995 por um extremista judeu, que se opunha ao processo de paz e à solução dos dois Estados.
Y. Rabin tinha recebido o prémio Nobel da paz, juntamente com Shimon Peres, um político moderado israelita, e Yasser Arafat, líder da Autoridade Palestiniana. Há trinta anos parecia possível cortar o ciclo de violência no Médio Oriente. Mas ainda antes de Netanyahu ser primeiro ministro já se tinham desvanecido as esperanças de relançar ali um processo de paz.
O atual chefe do governo de Israel não aceita fazer uma trégua ou uma mera pausa na intervenção militar em Gaza, cuja situação humanitária é catastrófica. Para ele, o ataque ao Hamas não pode ser interrompido – “é tempo de guerra”.
Por toda a parte os bombardeamentos a Gaza suscitam uma onda de indignação. Netanyahu não a ignora. Mas ele precisa, para se manter primeiro-ministro, de ganhar a guerra ao Hamas, por muito que isso leve a prejudicar a imagem de Israel no mundo. O ciclo infernal da violência no Médio Oriente acentua-se.