Na segunda-feira passada a manchete do “Jornal de Notícias” anunciava: “Programa que atraía moradores para o Interior sem procura”. Trata-se de um programa lançado em abril de 2018, mas que só em 2020 foi regulamentado.
É mais uma machadada na esperança de travar o despovoamento da maior parte do território, que já não se limita ao interior do país. O atraso e a aparente falta de convicção com que este programa foi regulamentado sugerem que o poder político já não acredita na possibilidade de travar esse despovoamento.
Mas as lamentações sucedem-se. Em novembro várias associações empresariais do interior alertaram: “precisamos de pessoas”, “não há mão-de-obra”, “os jovens estão todos a sair”, etc.
O problema é, de facto, muito difícil de ultrapassar. Vários concelhos em Portugal oferecem vantagens a quem optar por ali residir. Até hoje, sem grandes resultados. Em Espanha a incapacidade para travar o despovoamento levou já à criação de um partido político tendo como único objetivo combater esse despovoamento.
A crescente urbanização é uma tendência mundial. Mais de metade da população do globo já vive em zonas urbanas.
Mas as novas tecnologias, o teletrabalho e a possibilidade de uma pessoa, vivendo no campo, se manter conectada com o que acontece nos centros urbanos nacionais e internacionais, permitem afirmar que viver longe desses centros é hoje mais atrativo do que no passado. Até porque o custo de vida no interior é manifestamente mais baixo do que nas áreas urbanas de Lisboa ou do Porto.
Mas depois surgem os problemas, como a educação dos filhos, que dificilmente pode ser assegurada em zonas desertificadas.
O primeiro-ministro afirmou há dias que o interior deve usar a “bazuca” para evitar “um país a duas velocidades”. Excelente intenção, mas não chega. Tem que haver uma estratégia realista e partilhada entre o poder local e o central para conseguir resultados.
Multiplicar as pequenas iniciativas, descoordenadas entre si, só virá acentuar a descrença geral na capacidade de o interior atrair mesmo mais população. Sendo que a crescente concentração nas maiores áreas urbanas afeta aí qualidade de vida dos que sofrem engarrafamentos de trânsito infernais e penosas viagens de casa para o trabalho e regresso.