A contratação de Sérgio Figueiredo, ex-diretor de informação da TVI, para o Ministério das Finanças causa “dano ao jornalismo e à qualidade da democracia”, afirma Luís Santos, professor da Universidade do Minho e especialista em comunicação.
“O Sérgio Figueiredo já deixou o jornalismo há dois anos. Não querendo olhar especificamente para a situação dele, a ideia de que existe uma porta giratória entre apoio a atividades do Governo ou políticas e o jornalismo é uma ideia que traz dano à credibilidade da profissão”, afirma Luís Santos, em declarações à Renascença.
Este e outros casos reforçam a “imagem pública de algum desprestígio para o jornalismo”, uma ideia “profundamente errada para a maioria dos jornalistas”, sublinha.
Luís Santos considera que o jornalismo está cada vez mais fragilizado, na relação com as fontes e com o poder devido à crise no setor.
“Um académico americano dizia que a relação entre os jornalistas e as fontes era uma espécie de uma dança: às vezes puxava uns, às vezes puxava outro. Há já muitos anos que no jornalismo esta relação entre as fontes e os jornalistas deixou de ser uma dança. Eu diria que um dos parceiros arrasta o outro pelos cabelos. E isto já acontece há muito tempo e traz muito dano ao jornalismo e à qualidade da democracia, em última análise”, alerta o especialista em comunicação social.
A profissão jornalística está “cada vez mais frágil” perante “instituições políticas, económicas ou desportivas têm muito mais recursos e oportunidades de emprego bem pago para pessoas especialistas em comunicação”, afirma Luís Santos.
O que pode ser feito para evitar situações como esta? O professor da Universidade do Minho defende um “esforço concertado de toda a gente que acha que o jornalismo é importante para a qualidade das democracias”.
“Isto envolve também os políticos que têm de se autocontrolar nesta sua vontade de cooptar jornalistas conhecidos para trabalharem consigo, porque isto acontece com muita frequência. Temos que ser nós enquanto cidadãos, têm de ser os jornalistas, mas têm também que ser as pessoas que têm mais poderes e mais recursos económicos para atrair estas pessoas e fragilizar por arrastamento a profissão”, conclui Luís Santos.
O Ministério das Finanças contratou o ex-administrador da Fundação EDP e antigo diretor de informação da TVI. Sérgio Figueiredo vai ser consultor estratégico para fazer a avaliação e monitorização do impacto das políticas públicas.
O contrato com o ex-jornalista foi feito por ajuste direto e tem a validade de dois anos. Durante esse tempo terá um ordenado equiparado ao salário mensal base ilíquido dos ministros, isto é, de 4.767 euros.