Hospitais de São José e Santa Maria vão assegurar urgências noturnas de Urologia e Gastrenterologia
09-03-2023 - 08:07
 • Anabela Góis , Olímpia Mairos

O anúncio oficial será feito ainda esta semana, altura em que será também conhecido o modelo de urgências pediátricas.

Está fechado o desenho das urgências metropolitanas de Lisboa de Urologia e Gastrenterologia.

Ao que a Renascença apurou, os hospitais de Santa Maria (Centro Hospitalar Lisboa Norte) e São José (Centro Hospitalar Lisboa Central) vão assegurar as urgências noturnas nestas duas especialidades, alternando de sete em sete dias.

No caso da gastrenterologia, durante a noite, os especialistas dos restantes hospitais - Fernando da Fonseca, Egas Moniz, Beatriz Ângelo e, à vez, Barreiro e Garcia de Orta, vão ficar de prevenção.

No caso da Urologia, o modelo já está em prática desde o final do ano passado, altura em que foi preciso resolver o problema da exaustão dos especialistas que, por serem poucos, eram obrigados a fazer 2/3 urgências por semana.

Para o presidente do Colégio da Especialidade de Urologia da Ordem dos Médicos, Carlos Martins da Silva, não é a solução ideal, mas é uma boa solução que funciona bem no norte do país.

“Não é uma solução ideal. A solução ideal é que cada hospital tivesse uma urgência e tratasse os seus próprios doentes. Mas, num país com alguma limitação de recursos e com vários hospitais e que há que há alguma falta de recursos humanos, eu penso que esta forma de disponibilizar os recursos, concentrando recursos nalguns locais, é uma boa solução”, defende.

Bons resultados a norte

Carlos Martins da Silva lembra que “a concentração desses recursos na urgência metropolitana norte, no Porto, tem dado provas de bons resultados” e a prova disso - diz - “é que desde há 10 anos que funcionamos desse modo e acaba por haver uma integração das equipas, as pessoas conhecem-se melhor”.

Além disso, o especialista realça que “é garantido que todos os doentes, sejam lá de onde vierem, são tratados”, acrescentando que “as urgências metropolitanas são uma boa resposta” e, embora não seja a resposta ideal, “é um passo nessa direção”.

Nestas declarações à Renascença, admite, no entanto, que a falta de médicos de família na região de Lisboa e Vale do Tejo possa criar mais pressão sobre as urgências, mas diz que a solução passa mesmo pela concentração de serviços.

“O facto de as pessoas não terem acesso a um médico de família, um médico de Medicina Geral e Familiar em tempo útil, claro que se repercute e tem repercussão nas urgências”, admite, considerando, no entanto, que “esta concentração de meios, especialmente recursos humanos, numa altura em que há uma limitação de recursos humanos, é uma boa resposta”.

Concentração das urgências atenua exaustão dos médicos

Também o presidente do CRI (Centro de Responsabilidade Integrado) de Urologia do São José (Centro hospitalar Lisboa Central), Luís Campos Pinheiro, considera que a concentração das urgências é uma solução perto do ideal e atenua o problema da exaustão dos médicos.

“É uma solução que está perto do ideal”, diz, lembrando que “esta solução vem de uma fase de exaustão dos profissionais de saúde, designadamente dos mais jovens, em que estavam a fazer atividade de urgência - por vezes - duas vezes por semana, ocasionalmente, três vezes, muito no limite; e, inteligentemente, conseguimos arranjar uma solução que concentra a urgência noturna de Urologia de forma alternada semanalmente nos hospitais de São José versus Hospital de Santa Maria”.

Cada um dos dois hospitais é responsável, a cada semana, por mais de 5 milhões e meio de utentes. Por isso, este modelo veio permitir que os profissionais, pelo menos, recuperem do trabalho a que estão sujeitos a cada semana.

“Penso que está a resultar, porque conseguimos encontrar uma forma em que, semana sim, semana não, é possível que as pessoas tenham uma atividade menos intensa e, portanto, restaure as capacidades físicas e psíquicas para a semana seguinte”, observa.

O especialista lembra que “estes dois hospitais têm, cada um deles, uma população de atendimento de 2, 8 milhões de pessoas que gera situações de urgência relativamente frequentes em cada um dos hospitais, com uma média de cirurgias de 2.3 por dia e que pode subir às cinco e às sete operações por dia, com picos que não são assim tão raros”.

Anúncio esta semana

A falta de médicos de família na região de Lisboa e Vale do Tejo não traz grandes complicações, porque resultam em falsas urgências que não dão origem a cirurgias. As complicações surgem, porque as urgências servem uma população gigantesca. Em termos de atividade cirúrgica, quase não se nota a diferença entre semana ‘on’ e ‘off’.

“A Urologia não é uma especialidade de urgência. No nosso caso, em Portugal, acaba por ser, porque elas estão muito, muito concentradas. Portanto, cada uma das urgências metropolitanas tem uma área de 2, 5 milhões de pessoas, tanto a do Porto, como a de Coimbra, como cada uma das duas que está em Lisboa e, portanto, esta especialidade, que não é uma especialidade de urgência, como uma Cirurgia Geral, ou uma Medicina Interna, acaba por ter grande atividade cirúrgica”, esclarece.

A nova organização das urgências metropolitanas de Lisboa de Urologia e Gastrenterologia foi acertada em definitivo na reunião de terça-feira, entre a Direção Executiva do SNS, os hospitais de Lisboa e Vale do Tejo, INEM, Administração Regional de Saúde, Comissão Executiva para as Urgências Metropolitanas e Unidade Técnica Operacional dos Serviços de Urgência.

O anúncio oficial será feito ainda esta semana, altura em que será também conhecido o modelo de urgências pediátricas.