Há seis anos era a dificuldade em encontrar a casa que se pretendia que afastava os portugueses do processo de procura, para comprar ou arrendar. Hoje, a maioria, 55%, admite que desiste devido ao preço. Esta tendência mantém-se em Lisboa (51,2%), indica o Observatório do Imobiliário da Century 21, o mais recente estudo da habitação em Portugal.
Ricardo Sousa, CEO da Century 21, diz à Renascença que o fator preço está "claramente em evidência".
Outra novidade deste estudo da habitação é o motivo para a mudança. Os proprietários decidem vender, sobretudo, porque precisam de dinheiro disponível e só depois para trocar por uma casa melhor. Antes, ter uma casa melhor era a prioridade, seguida do crescimento da família.
As cedências de quem procura casa
A localização ambicionada é garantida, mas pelo caminho ficam outras preferências, que já não cabem no orçamento. Em média, o preço da prestação ou da renda fica 4% abaixo do ideal.
A área é um dos sacrifícios mais recorrentes, o desejado T3 acaba por ser substituído por um T2, a moradia passa a apartamento. A escolha final acaba também por ter menos comodidades e a zona envolvente menos valências do que era desejado, segundo o Observatório do Imobiliário.
Há também mais pessoas a aceitar casas em segunda mão e mesmo a precisarem de obras. Mais de 92% preferem viver em casa própria, mas apenas 65% conseguem, quase um terço é arrendatário (32%)
Continua também a crescer a preferência por moradias isoladas (28% para 37%) e pátios e jardins, uma tendência impulsionada com a pandemia. Uma maior fatia (25%) mostra abertura para mudar de cidade.
Oferta disponível 7% mais cara
Entre as casas disponíveis, predominam "os apartamentos usados sem necessidade de obras, T3, com um WC, de 91 a 120 m2, com terraço, varanda e garagem". No entanto, nos centros das cidades esta oferta já foi toda absorvida, restam apenas as opções nas zonas periféricas e estas, "mesmo com essa localização menos central, tem elevadas expetativas de preço, pretendendo valores 7% acima das que foram escoadas".
Já no mercado de arrendamento, a oferta disponível nas periferias chega a ser 16% mais barata.
Para Ricardo Sousa, "a oferta é o grande desafio. Nós estamos há muitos anos sem construir e temos um planeamento urbano das nossas cidades e das áreas metropolitanas completamente desajustado da sociedade atua e das expectativas das pessoas". Ou seja, "a oferta disponível e a sua localização não está ajustada ao que as pessoas precisam e onde precisam", conclui.
De acordo com este trabalho, a maioria procura "um apartamento usado sem necessidade de obras, na cidade onde vive e junto ao centro".
São sobretudo as mulheres quem procuram casa
Quanto ao perfil de quem procura casa, a maioria são mulheres (63%) e os 30 anos é a altura preferida para dar este passo (32%). Mais de metade (59%) são famílias, de duas ou três pessoas, e 73% querem ficar na mesma cidade. De uma forma geral, os apartamentos são os mais procurados no país (56%) e quase todos os inquiridos (95%) elegem como uma das maiores prioridades a segurança da zona.
Metade procura casa entre os 100 mil euros e os 200 mil euros. Nas rendas, 55% está disponível para pagar até 500 euros.
Três prioridades para a habitação
Em véspera de eleições legislativas, o CEO da Imobiliária Century 21 aponta três prioridades para o setor da habitação, a começar pela mobilidade.
"É urgente ampliar e modernizar a ferrovia, as linhas urbanas da CP, a 45 e 70 quilómetros da cidade", diz Ricardo Sousa. Defende ainda que seja dada prioridade à expansão do metro de Loures e, em particular, à Linha Violeta.
A segunda prioridade assinalada é "implementar e melhorar o simplex do licenciamento urbanístico, garantindo segurança jurídica, que está a ser agora posta em causa, agilidade nos processos de construção e que proteja o consumidor final, quem compra a casa".
Por fim, defende que seja incentivada a "industrialização na construção", de forma a garantir "sustentabilidade ambiental, construir de forma mais rápida e mais segurança e inclusividade às condições de trabalho na construção". Ricardo Sousa acredita que trará mais mão-de-obra à construção e vai permitir aumentar a oferta na habitação.