A irmã Júlia Barroso preside desde 2006 à Comissão de Apoio às Vítimas do Tráfico de Pessoas, que foi criada no âmbito da Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP).
Em entrevista à Renascença a irmã Júlia Barroso lembra que quando assumiu o cargo nem toda a gente conhecia o problema, muito menos que também existia no nosso país: “quando iniciámos ainda se dizia que em Portugal não havia tráfico humano, que era apenas um lugar de trânsito. Neste momento já é assumido que é um lugar de destino, origem e trânsito. Há mulheres que vêm e ficam, mulheres e homens que saem, ou são levados, para outros lugares, e outros que vêm de um país, passam aqui e vão para outro destino”.
E quais são as situações mais problemáticas no nosso país? A irmã Júlia Barroso diz que “o tráfico para exploração laboral está em crescimento”, mas o tráfico de mulheres para exploração sexual “é antigo e continua, não diminuiu”. E também existe o tráfico de crianças para diversos fins, como as redes de pedofilia, a adopção ilegal e o tráfico de órgãos.
Esta religiosa acredita que os vários alertas que o Papa tem feito vão acabar por sensibilizar cada vez mais as pessoas para o tráfico humano, mesmo no interior da Igreja, onde continuam a ser sobretudo as congregações femininas a lidar no terreno com esta realidade. E são elas que estão representadas na Comissão a que preside, e que está ligada à Rede Internacional que trabalha nesta área: “são sobretudo irmãs, porque os homens ainda não estão muito sensibilizados. Somos 14, 15 irmãs de 12 institutos religiosos e uma pessoa leiga”. E todas de Congregações que lidam de perto com o problema: “estamos todas ou em zonas de bairro ou em instituições com crianças em risco, todas estamos ligadas a situações de fragilidade no terreno”. Experiências que partilham todos os meses: “são reuniões de partilha e aprendizagem mútua, para reflexão, programação, preparação e avaliação de acções”.
A irmã Júlia Barroso lamenta que a Europa não saiba ajudar os milhares de imigrantes ilegais que lhe batem à porta, porque muitos deles são vítimas do tráfico humano: “a tendência dos Estados em geral é o repatriar, o enviar de volta à sua origem, não reparando que esta pessoa possivelmente ao retornar vai ser complicado, vai ser pior”. É a “sociedade da indiferença”, de que fala o Papa, onde “não se respeitam os direitos humanos, e só a economia interessa”.
A entrevista à irmã Júlia Barroso vai ser transmitida este Domingo no programa “Principio e Fim”, a partir das 23h30 na Renascença. Um dos destaques será o tráfico humano, a propósito do Dia Internacional de Oração e Reflexão que hoje se assinala.