É um daqueles casos em que a pandemia trocou as voltas. O mais recente filme do realizador português Luís Ismael aguarda vez para estrear em sala em Portugal. Mas, entretanto, esta recriação histórica tem sido apresentada em festivais internacionais e já soma mais de 50 prémios.
“1618” é um filme histórico que retrata a cidade do Porto no tempo da Inquisição e numa altura em que Portugal era governado a partir de Madrid pelo rei Filipe III de Espanha, II de Portugal. A forma como a cidade portuense reagiu à entrada da Inquisição é o pano de fundo conta o realizador Luís Ismael.
Em entrevista ao programa Ensaio Geral, da Renascença, o cineasta sublinha que então “existia uma catalogação entre os cristãos novos e os cristãos velhos”. O filme que parte de casos verídicos traz a lume a história da “entrada da Inquisição no Porto que foi à procura de delatores que acusassem pessoas que tinham práticas judaicas”, explica Luís Ismael.
“Tanto a população, como as autoridades da cidade revoltaram-se com esta intromissão da Inquisição, tanto que no Porto só houve um auto de fé”, refere o realizador de “1618”. “Obrigaram a Inquisição a ceder e a parar com as suas atividades” lembra o cineasta.
“1618” é um filme que envolveu a participação de 1.200 figurantes e teve uma pós-produção de mais de um ano, envolvendo diversos efeitos especiais.
“O mais desafiante foi pegar neste filme e tentar produzi-lo em Portugal, com todas as limitações que existem”, destaca Luís Ismael que rodou o filme em apenas “três meses”, mas depois de oito meses de pré-produção.
“Havia dias que tinha no set cerca de 200 a 300 figurantes, animais e adereços”, recorda Ismael, que já antes realizou outro filme histórico de temática judaica, como o Sefarad. Segundo as suas explicações “1618” é “em termos de produção, único no cinema português porque teve uma carga tanto financeira, como artística e técnica bastante intensa”.
O realizador, que também já assinou outros filmes como “Balas e Bolinhos”, diz que “1618” não é um filme com “uma estrutura narrativa normal de Hollywood”.
Nas palavras de Luís Ismael, o filme tem uma “narrativa genuína, que acrescenta um bocadinho mais ao que a História portuguesa tem para mostrar”. Na base desta longa-metragem estão factos verídicos.
Ainda sem data para estrear nas salas de cinema portuguesas devido aos constrangimentos da pandemia, “1618” já conquistou mais de 50 prémios em festivais de cinema internacionais. Luís Ismael confessa que essas distinções foram para si uma surpresa.
“Já teve quase 60 prémios, desde melhor filme, melhor realizador, melhor arte, melhor guarda-roupa, melhor direção de fotografia, até prémios de melhor casting. Tem surpreendido. Teve também o interesse de várias distribuidoras e uma americana pegou no filme e está a decorrer neste momento o processo de venda”, conta Luís Ismael à Renascença.
Com produção da Lightbox, o filme conta com a participação dos atores Pedro Laginha, Catarina Lacerda, Francisco Beatriz, Mafalda Branqart, Heitor Lourenço, Pompeu José, entre outros.
"1618" faz parte de um projeto inter-religioso e de combate ao antissemitismo entre a Comunidade Judaica do Porto que é detentora dos direitos sobre o filme e a Diocese do Porto. Quando estrear, as receitas do filme em Portugal irão reverter para fins de solidariedade social, numa parceria entre a Diocese do Porto e o Banco Alimentar.