Porém, há quem genuinamente não entenda a dimensão da JMJ. Não a perceba como acontecimento global nem como ocasião singular para quem a vive intensamente – os que prepararam, os que acolhem e aqueles que chegam.
Há quem não seja capaz de imaginar o modo como cada pessoa pode ser tocada por uma experiência que ultrapassa as experiências habituais. Nem a mudança que pode imprimir à vida concreta de tanta gente.
E isso é tanto mais difícil imaginar, quando tal experiência é desencadeada pelas mãos de uma Igreja que se afirma em contracorrente a uma cultura minoritária que procura impor-se como se fosse dominante.
Como é possível os jovens - logo eles - aderirem assim a um desafio de uma Igreja que deve evoluir, pedir perdão - pelo que fez ou pelo que não foi capaz de fazer -, mas que não pode negar o essencial - Cristo e a sua (nossa) cruz?
Numa sociedade tão permeável às posições de correntes minoritárias que aspiram a dominar o comportamento e o pensamento (e até a cancelar os que pensam diferente) a realização da Jornada Mundial da Juventude é também uma afirmação de liberdade.
Claro que nem todos estes jovens serão católicos, nem todos procuram o mesmo e entre todos pensam, seguramente, coisas muito diversas. Uns procuram o Papa. Outros buscam um sentido. Ainda outros precisam de respostas concretas. E outros vieram ao sabor do vento, pelo mero convívio ou para experimentar algo de novo.
Na história do cristianismo foi sempre assim. Nem todos procuraram Jesus pelas mesmas razões, nem vieram todos do mesmo lado. Tal como não foram tocados todos do mesmo modo. As reações foram diferentes, algumas contraditórias e muitas vezes em aberto desacordo. Mesmo os mais próximos negaram Jesus ou afastaram-se em momentos chave, da Sua vida e da Sua morte. E as discussões entre os apóstolos não terminaram, longe disso, depois da Ressurreição.
Quem se melindra pelas diversas sensibilidades e estilos dentro da Igreja ou pelas diferentes motivações dos jovens que acorrem a Lisboa, parece ignorar os primeiros tempos e os diferentes itinerários que podem levar a Deus.
E todo esse caminho é mais importante do que dissecar a bondade do dinheiro investido (embora seja necessário fazê-lo), satisfazer todos os legitimamente insatisfeitos, preencher todos os requisitos dos bem-pensantes ou ceder à tentação de responder aos
protestos moralistas dos Bordalos segundos com as mais divertidas obras do Bordalo primeiro.
Nada disso é novo. Sempre assim sucede quando os acontecimentos excedem a normalidade.
E nada disso importa, perante um mar de jovens que se preparam para receber o Papa e deixar-se tocar pelo testemunho da fé nos seus múltiplos carismas.
A JMJ é um mosaico do rosto da Igreja que não prescinde do futuro e que aos jovens também se confia.
O resto é pura espuma e não apaga o essencial.