O ex-ministro da Economia Manuel Pinho foi esta terça-feira bombardeado na Assembleia da República com perguntas sobre a relação com o Grupo Espírito Santo e com a EDP. E se aos deputados do PSD não respondeu, dada a insistência da deputada do Bloco de Esquerda Mariana Mortágua soltou o desabafo: “Estou massacrado com esta situação. Isto não tem graça nenhuma”.
Esta resposta dada na comissão de Economia, para a qual foi convidado para falar dos CMEC e sobre as barragens, veio ainda antes de Mariana Mortágua perguntar porque razão é que em 2005 o GES lhe pagou por dois meses de trabalho o mesmo que em todo o ano anterior, ou seja, 495 mil euros.
“Se o declarei é porque recebi”, disse, para depois voltar a dizer que não era aquele o assunto que o levou à Assembleia da República. A audição pedida pelo PSD, numa altura em que a relação de Manuel Pinho com o setor privado da energia está sob suspeitas judiciais.
Mortágua corrigiu o ex-ministro, e disse-lhe que foi “convidado para falar sobre tudo”, mas que optou por só “falar de algumas coisas”. E acrescentou que depois da resposta, o Parlamento ficou sem condições de “saber porque é que dois meses de trabalho dão 500 mil euros”.
A questão seguinte da deputada do Bloco de Esquerda foi se Pinho preencheu com verdade as declarações ao Tribunal de Contas. O ex-ministro do Governo José Sócrates foi evasivo novamente e respondeu mais uma vez que aquela questão estava "fora do âmbito do tema que o levou a aceitar o convite dos deputados".
“Se convido uma pessoa para ir ver futebol lá a casa, não ponho a pessoa a varrer o chão”, disse.
Questionado pela mesma deputada se mantinha as palavras ditas a um jornal em 2005, na squais garantia que tinha todas as condições de imparcialidade e isenção para decidir sobre o GES, Pinho reiterou ter “isenção em relação a qualquer interesse”.
“Quando se fala em lobbys, transição entre politica e empresas, isso é conversa de cafés, o que penso sobre isso tenho de guardar para a comissão sobre os preços da energia. Quando falo desse tema gosto de pôr nomes e moradas”, sublinhou.
Mariana Mortágua, na troca de argumentos sobre a razão que levou Pinho ao Parlamento, afirmou que “a democracia portuguesa está confrontada com o pagamento de uma entidade privada a um ex-ministro”. “É muito sério, é um Mensalão [esquema de corrupção no Brasil que envolvia pagamento de empresas a políticos para daí retirar proveito] no seu pior”, acusou.
“Vem brincar com coisas muito sérias”, disse Mortágua. “Os que no passado cá o vieram fazer, tinham algo a esconder”, afirmou.
Pinho revelou ainda que quem o convidou para o Governo foi José Sócrates, o que nem o apanhou de surpresa pois foi ele a escrever o programa do PS para a área de economia e foi eleito deputado. “Se devia ter aceite foi algo que a minha mulher nunca me perdoou.”
"O PSD é o pai dos CMEC e a mãe das barragens"
Antes Manuel Pinho afirmara que "o PSD é o pai dos CMEC e a mãe das barragens", em resposta às questões sobre suspeitas de ter sido pago pelo GES enquanto estava no Governo de José Sócrates.
Na intervenção do PSD, o primeiro grupo parlamentar a inquirir Manuel Pinho, o deputado Paulo Rios de Oliveira questionou quatro vezes sobre os pagamentos que terão sido realizados a "uma nova sociedade 'offshore' descoberta a Manuel Pinho, chamada Tartaruga Foundation, com sede no Panamá, por parte da Espírito Santo (ES) Enterprises, tendo o antigo governante recusado responder a essa matéria por estar "em avaliação judiciária".
"Esta opção resulta do meu exercício do direito de defesa. Pelo exposto mantenho que não responderei a questões relacionadas com o GES [Grupo Espírito Santo] e em investigação judiciária", disse, lendo inclusive a carta que enviou ao presidente da Comissão de Economia, Inovação e Obras Públicas, Hélder Amaral, em resposta ao requerimento do PSD.
No final do período que os sociais-democratas tinham para questionar Manuel Pinho, o antigo ministro da Economia lamentou a insistência em questões "fora do âmbito", uma vez que "o PSD foi importantíssimo [nas rendas da energia],é o pai dos CMEC [custos para a manutenção do equilíbrio contratual] e a mãe das barragens".
"A minha única limitação é o meu mandato [...] Os interesses que prossegue são os seus, os meus [interesses] são os de todos, as dúvidas dos cidadãos", terminou o social-democrata Paulo Rios de Oliveira.