“É uma decisão grave, com grandes repercussões do país”. O médico Eurico Castro Alves, ex-secretário de Estado da Saúde, antigo presidente do Infarmed e atual diretor do serviço de cirurgia do Hospital de Santo António diz que não quer “ser um dos condicionantes da decisão”, mas deixa bem claro que acha cedo para declarar o estado de emergência.
“Se fosse eu a decidir a declaração do estado de emergência, olhava para o que está a acontecer no país. Eu acho que na esmagadora maioria dos casos as pessoas estão a cumprir. O estado de emergência é um último recurso, e acho que ainda é cedo”, afirma o ex-governante em entrevista à Renascença.
Para este médico “ainda há outras coisas que se podem fazer antes de se avançar para o estado de emergência”, como ao que tudo indica o Presidente da República se prepara para decidir com respaldo do Conselho de Estado. “Se fosse eu a decidir apostava em apelar mais às pessoas”, acrescenta o médico.
Importante é conter a disseminação do vírus
“O número de casos é razoável. Não vivemos nenhum drama. A situação pode ser controlada dentro de uma ou duas semanas”, afirma Eurico Castro Alves, lembrando que maioria dos casos de infetados não é grave e que o mais importante neste momento é conter a disseminação do vírus.
“Manter a serenidade, manter as nossas capacidades intelectuais e deixar as autoridades fazerem o seu trabalho”, aconselha o médico para quem decisões como fechar a fronteira com Espanha, o condicionamento dos centros comerciais, o encerramento dos eventos desportivos “são medidas razoáveis e adequadas às circunstâncias”.
“Não podemos entrar em pânico, temos de ser racionais. E neste momento acho que está a ser feito tudo o que é preciso e os resultados estão a aparecer: se não tivéssemos feito nada todo o país estaria infetado e seria uma grande tragédia, o que não está a acontecer”, acrescenta o diretor de cirurgia do Santo António que aconselha a criação de reservas estratégicas de recursos humanos nos hospitais.
“Por cautela os hospitais deviam criar uma reserva estratégica de recursos humanos, pôr uma parte dos médicos e dos restantes profissionais de saúde numa situação de defeso para reforçarem os meios em caso dos outros ficarem impedidos de atuar. É uma medida preventiva que faria sentido, muito mais do que o estado de emergência. Apenas e só preventiva porque nem acredito que seja necessário, mas é nossa obrigação estarmos preparados para o pior”, conclui.