“O estado de emergência é um último recurso e acho que ainda é cedo”
18-03-2020 - 08:20
 • Anabela Góis

Ex-secretário de Estado da Saúde aconselha que hospitais criem reserva estratégica de recursos humanos. Faz mais sentido do que estado de emergência, defende.

“É uma decisão grave, com grandes repercussões do país”. O médico Eurico Castro Alves, ex-secretário de Estado da Saúde, antigo presidente do Infarmed e atual diretor do serviço de cirurgia do Hospital de Santo António diz que não quer “ser um dos condicionantes da decisão”, mas deixa bem claro que acha cedo para declarar o estado de emergência.

“Se fosse eu a decidir a declaração do estado de emergência, olhava para o que está a acontecer no país. Eu acho que na esmagadora maioria dos casos as pessoas estão a cumprir. O estado de emergência é um último recurso, e acho que ainda é cedo”, afirma o ex-governante em entrevista à Renascença.

Para este médico “ainda há outras coisas que se podem fazer antes de se avançar para o estado de emergência”, como ao que tudo indica o Presidente da República se prepara para decidir com respaldo do Conselho de Estado. “Se fosse eu a decidir apostava em apelar mais às pessoas”, acrescenta o médico.

Importante é conter a disseminação do vírus

“O número de casos é razoável. Não vivemos nenhum drama. A situação pode ser controlada dentro de uma ou duas semanas”, afirma Eurico Castro Alves, lembrando que maioria dos casos de infetados não é grave e que o mais importante neste momento é conter a disseminação do vírus.

“Manter a serenidade, manter as nossas capacidades intelectuais e deixar as autoridades fazerem o seu trabalho”, aconselha o médico para quem decisões como fechar a fronteira com Espanha, o condicionamento dos centros comerciais, o encerramento dos eventos desportivos “são medidas razoáveis e adequadas às circunstâncias”.

“Não podemos entrar em pânico, temos de ser racionais. E neste momento acho que está a ser feito tudo o que é preciso e os resultados estão a aparecer: se não tivéssemos feito nada todo o país estaria infetado e seria uma grande tragédia, o que não está a acontecer”, acrescenta o diretor de cirurgia do Santo António que aconselha a criação de reservas estratégicas de recursos humanos nos hospitais.

Por cautela os hospitais deviam criar uma reserva estratégica de recursos humanos, pôr uma parte dos médicos e dos restantes profissionais de saúde numa situação de defeso para reforçarem os meios em caso dos outros ficarem impedidos de atuar. É uma medida preventiva que faria sentido, muito mais do que o estado de emergência. Apenas e só preventiva porque nem acredito que seja necessário, mas é nossa obrigação estarmos preparados para o pior”, conclui.