Covid-19. “Ainda não sabemos se, nem quando, vamos atingir imunidade de grupo”
09-06-2021 - 10:30
 • Marta Grosso , Miguel Coelho (entrevista)

Os portugueses são dos povos que mais aderem às vacinas e têm “tudo em dia”, diz a responsável pelo Programa Nacional de Vacinação, na Renascença. Sobre o novo coronavírus, Teresa Fernandes diz que o programa está a correr bem, mas ainda não se sabe tudo.

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“Quanto menos pessoas estiverem infetadas [com Covid-19], menos a doença vai circular na comunidade” e com isso “teremos sempre vantagens de saúde pública”, diz Teresa Fernandes, responsável pelo Programa Nacional de Vacinação e membro da equipa de vacinação Covid da Direção-Geral da Saúde.

Entrevistada na Renascença neste Dia Mundial da Imunização, a especialista diz, contudo, ser cedo para se saber quando iremos atingir a imunidade de grupo.

“Ainda não sabemos nem se nem quando. São vacinas muito recentes, é uma doença muito recente que ainda estamos a estudar. Para já, o que interessa é que as pessoas todas adiram para que se consiga que toda a gente esteja protegida”, afirma.

Nesta entrevista, Teresa Fernandes fala sobre os efeitos secundários destas vacinas e realça que os portugueses têm uma grande cultura de vacinação. Garante ainda que, apesar da pandemia e no que diz respeito ao Plano Nacional de Vacinação, as vacinas estão em dia na generalidade da população.



A pandemia acabou por mudar a perceção que as pessoas têm das vacinas?

Temos excelentes razões para comemorar a vacinação e felizmente, em Portugal, as pessoas aderem muito bem, há muitos anos. Desde 1965 que as pessoas têm uma adesão muito elevada ao Programa Nacional de Vacinação e, como tal, temos uma cultura de vacinação em Portugal.

Esta é uma situação nova, uma pandemia que apanhou todos de surpresa, mas temos visto muito boa adesão à vacinação, o que penso que tem a ver com essa nossa norma. As pessoas acreditam mesmo na vacinação em Portugal e somos dos países com melhores resultados no mundo.

Já foi maior também a polémica sobre os efeitos adversos das vacinas. As pessoas terão interiorizado que, apesar de tudo, são casos relativamente raros?

Exatamente. É o que temos tentado comunicar. Como estamos a vacinar muitas pessoas – de repente, tivemos de vacinar milhões de pessoas, é uma realidade diferente do PNV – é natural que se detetem também mais reações adversas.

Mas, no geral, a vacinação tem sido muito segura, é o feedback que temos das pessoas que estão a vacinar nos centros de vacinação Covid. São raríssimas as reações graves na altura da vacinação e o Infarmed tem publicado os seus relatórios.

Durante a pandemia, algumas das outras vacinas ficaram para trás. Esse atraso já foi recuperado?

Não houve, na verdade, um atraso no Programa Nacional de Vacinação. O que vimos foi que, quando começou o confinamento, em que fomos todos apanhados de surpresa e as pessoas estavam com muito receio de sair à rua, comunicámos que a vacinação do PNV era uma prioridade – isto foi em março/abril do ano passado – e as pessoas foram aderindo.

Quando saíram do confinamento, os serviços de saúde também fizeram o seu papel de chamar as pessoas que estavam em atraso para a vacinação, principalmente as crianças pequenas. Demos prioridade à vacinação até aos 12 meses de idade, às grávidas, às pessoas dos grupos de risco e, portanto, quando chegámos a junho, que era a altura da nossa avaliação de meio do ano, tínhamos já uma elevada cobertura vacinal. No fim do ano, que avaliámos agora em abril, tínhamos excelentes coberturas, semelhantes aos anos anteriores.

Pode dizer-se que a vacinação está em dia?

A vacinação está em dia na generalidade da população.

Será de prever que, no futuro, a vacina contra a Covid-19 possa ser incluída no Plano Nacional da Vacinação?

Neste momento, é uma exceção, é uma campanha de elevadas dimensões, mas, tal como a vacinação contra a gripe sazonal, poderá ter uma campanha do género.

Quando tiver condições e soubermos o suficiente para ser uma vacina como as do Programa Nacional de Vacinação... Mas isso depende de avaliações, de uma comissão técnica de vacinação. Há vários dados que ainda precisamos de saber e que vai demorar algum tempo para sabermos.

Fala-se muito na ambicionada imunidade de grupo. Está otimista em que será possível atingi-la no caso da Covid-19?

Ainda não sabemos nem se nem quando vamos atingir uma imunidade de grupo. São vacinas muito recentes, é uma doença muito recente que ainda estamos a estudar e, para já, o que interessa é que as pessoas todas adiram para que se consiga que toda a gente esteja protegida.

Naturalmente, quanto menos pessoas estiverem infetadas, menos a doença vai circular na comunidade e teremos sempre vantagens de saúde pública.