“É um não problema” repete Marcelo Rebelo de Sousa que nesta manhã de domingo, depois de se encontrar com Lula da Silva, resolveu reprogramar toda a viagem ao Brasil, cancelando assim a deslocação a Brasília onde tinha prevista uma reunião com o presidente Jair Bolsonaro.
Até ao momento do gabinete de Bolsonaro não chegou qualquer confirmação escrita a cancelar o encontro, mas o presidente brasileiro mostrou desta forma o seu desagrado com o encontro de Marcelo Rebelo de Sousa, com o seu principal opositor na candidatura à presidência do Brasil.
Em declarações aos jornalistas esta manhã, depois do encontro de uma hora e 45 minutos na residência oficial do cônsul-geral de Portugal em São Paulo, questionado pela Renascença, Marcelo Rebelo de Sousa confirma como “chefe de Estado”, o caso “não altera nada, nem o meu relacionamento com o chefe de Estado brasileiro, nem o relacionamento do Estado português com o Estado brasileiro, nem o relacionamento do povo português com o povo brasileiro”.
Marcelo faz mesmo questão de relembrar que esta sua viagem pelo Brasil “só acaba por ser possível esta deslocação dentro do Brasil porque tem sido possível a utilização da Força Aérea Brasileira, que só é possível porque o Estado brasileiro, a começar no presidente brasileiro, está a apoiar a deslocação do presidente de Portugal, dentro do território brasileiro”.
Agora resta ao chefe de Estado reprogramar a visita. Marcelo assegura que já o está a fazer. Vai aproveitar mais tempo na Bienal do Livro de São Paulo, vai ainda encontrar-se com os ex presidentes Michel Temer e Fernando Henrique Cardoso.
Quanto a um futuro encontro com Bolsonaro, Marcelo Rebelo de Sousa remete para setembro, altura da celebração dos 200 anos da independência do Brasil. “Quando voltar em setembro, a situação já é diferente, porque aí já a campanha eleitoral está a decorrer”, diz o presidente que espera então “um encontro, não só no Congresso, mas certamente com o presidente da República”
De que conversaram afinal Lula da Silva e Marcelo?
Entraram os dois sem falar. Marcelo Rebelo de Sousa chegou primeiro, acompanhado pelo ministro da Cultura à residência do Cônsul-geral de Portugal em São Paulo, e logo de seguida chegou Lula da Silva.
O encontro numa sala de paredes vermelhas, de frente para a piscina, durou certa de uma hora e 45 minutos. Além de Lula, na sua comitiva estava, entre outros, o antigo ministro dos negócios estrangeiros do Brasil, Celso Amorim.
Lula da Silva saiu sem falar aos jornalistas, já Marcelo veio esclarecer que falou com Lula, na condição de ex-presidente do Brasil e não enquanto candidato. Quanto aos temas da conversa, foram sobretudo de caráter internacional.
“Falamos de temas mundiais muito importantes”, disse Marcelo. Segundo o presidente abordou Lula da Silva sobre a questão da Ucrânia, “a duração da guerra, os efeitos da guerra, o equilíbrio geopolítico, a situação económico-social”, detalhou Marcelo que deixou ao candidato opositor de Bolsonaro, a sua visão da “ótica europeia”.