O jesuíta Hans Zollner, membro da Comissão Pontifícia para a Tutela dos Menores, demitiu-se. Numa declaração tornada pública esta quarta-feira, o sacerdote alemão tece duras críticas a este organismo do Vaticano.
“Nos últimos anos, fui ficando cada vez mais preocupado com a forma como a comissão, na minha perspetiva, tem procurado atingir os seus objetivos, particularmente nas áreas da responsabilidade, da conformidade, da prestação de contas e transparência”, afirma.
Hans Zollner fala numa "falta de clareza" quanto ao processo de seleção dos membros da comissão, seus respetivos papéis e responsabilidades.
“Outra área de preocupação é a da prestação de contas, que eu acredito ser inadequada. É primordial para a comissão mostrar de forma clara como os fundos são usados no seu trabalho”, declara o padre que, nos últimos nove anos, foi membro deste organismo criado pelo Papa Francisco em 2014 para promover a proteção de menores e adultos vulneráveis na Igreja Católica.
"Informação insuficiente e comunicação vaga"
Na mesma declaração, Zollner defende também que deveria haver transparência no modo como as decisões são tomadas na comissão. “Muitas vezes, a informação era insuficiente e a comunicação vaga”, afirma, referindo desconhecer a regulamentação que rege a relação entre a comissão e o dicastério para a doutrina da fé que a tutela.
“A proteção das crianças e pessoas vulneráveis deve estar no coração da missão da Igreja Católica. Era essa a esperança que eu e outros partilhámos quando a comissão foi criada”, declara o sacerdote que acrescenta que, nos próximos tempos, se vai dedicar à função de consultor da Diocese de Roma e de diretor do Instituto de Antropologia.
Hans Zollner esteve em Portugal em fevereiro na apresentação do relatório da Comissão Independente para o Estudos dos Abusos Sexuais contra Crianças na Igreja. Na altura, apelou a “um verdadeiro compromisso da Igreja”. "Temos de perceber que apoiar as vítimas e tudo fazer para que não mais seja cometido um abuso, faça parte, e seja uma parcela da missão da própria Igreja”.