O fim da campanha eleitoral é, também, o fim de uma maratona informativa que ‘esticou’ as redações das empresas jornalísticas nacionais já naturalmente – como tantas outras áreas de atividade no país – muito condicionadas pela evolução recente da pandemia.
Nesse enquadramento, o trabalho jornalístico foi, antes de mais, uma prova de esforço para profissionais e empresas. E creio que, na generalidade, correu bem. Foi através de um número substancial de debates (na rádio e na TV) e de entrevistas que, ainda em pré-campanha, todos pudemos ficar a conhecer melhor as propostas e foi também por via de importantes trabalhos jornalísticos que soubemos mais sobre modos de financiamento, de organização e de funcionamento interno de algumas forças políticas (sobretudo as menos tradicionais).
Foi, já em campanha, o jornalismo que nos apresentou os ritmos das agendas diárias e que foi dando conta de episódios de mais acesa disputa em termos de discurso. O menor peso relativo das ‘campanhas de rua’ ajudou a aumentar a centralidade da vida política feita em contexto mediático ao mesmo tempo que esvaziou eventuais oportunidades para confrontos mais acesos ou mesmo desacatos.
Tudo excelente, então?
Não. Nem tanto.
Precisamente estes dois fatores - a fragilidade de meios dos média e a sua acrescida centralidade em virtude da pandemia – combinaram-se também para nos mostrar aspetos menos positivos.
O primeiro e, talvez, mais visível, foi a banalização das sondagens. Uma empresa específica apostou num modelo dinâmico, com dados novos a um ritmo diário; parte da amostra ia sendo substituída e isso resultava em ‘novidades’ em permanência.
Há, por um lado, dúvidas sobre a valia metodológica de um processo deste tipo, uma vez que a margem de erro resultante de uma parcela da amostra composta por cerca de 150 pessoas será sempre muito grande. Há, por outro lado, os efeitos em cascata que tal iniciativa tem na dinâmica das campanhas e no funcionamento dos outros média. Sempre que o Jornalismo está na origem de ‘novos factos’ (notícias, no fundo) isso precisa de acontecer em contextos estáveis, transparentes e de enorme prudência. Estaremos sempre a falar de ‘objetos raros’, muito bem enquadrados, não devendo funcionar como ‘motor autónomo’ de produção informativa e de comentário.
O segundo e, talvez, mais difícil de detetar foi a escolha das personalidades não ligadas à vida política partidária direta a quem as empresas jornalísticas deram destaque nestas duas semanas – as pessoas que foram aparecendo, sobretudo em espaços alargados de entrevista, a dar-nos a sua opinião sobre ‘o mundo’.
Não é indiferente escolhermos este ou aquela especialista (na Economia, na Educação, na Saúde, etc.), não é indiferente ouvirmos representantes de umas atividades e não ouvirmos representantes de outras. Estas escolhas, sempre conscientes, orientam o olhar de quem lê, vê ou ouve e, em tempos tão sensíveis como os de uma das mais disputadas campanhas eleitorais de sempre, deveria ter existido, também aqui, maior prudência.