O primeiro-ministro, António Costa, rejeita a ideia da França de rasgar o acordo comercial com o Mercosul por causa da vaga de incêndios na Amazónia e suspender as importações de bovinos do Brasil.
"O Brasil precisa de solidariedade, não de sanções. O que nós precisamos é que haja intervenção para ajudar a salvar a Amazónia, não é aumentar o número de problemas que existem nestas relações entre a Europa e o Brasil", afirmou António Costa aos jornalistas, durante uma visita à Fatacil, em Lagoa, no Algarve.
A oposição da França e da Irlanda ao acordo comercial entre a Europa e o Mercosul "é conhecida desde sempre", afirma o primeiro-ministro, porque "querem defender a sua produção bovina".
"É o maior acordo comercial que a Europa já estabeleceu, é muito importante numa fase em que a nível mundial, designadamente os Estados Unidos, tem regredido significativamente em relação ao livre-comércio, onde há cenários de risco de guerras comerciais entre potências como EUA e a China, a existência de uma grande parceria entre Europa e Mercosul é da maior importância."
A questão dos incêndios da Amazónia deve merecer a solidariedade para com as autoridades e o povo brasileiro, defende António Costa, e não ser utilizada para um braço de ferro comercial.
"A Amazónia é um dos maiores pulmões do mundo, portanto, o que acontece na Amazónia diz respeito aos cidadãos de todo o mundo, é um problema global. Queria manifestar a nossa total solidariedade para com o povo brasileiro, com o Brasil, pela situação dramática que se está a viver. E devemos manifestar toda a disponibilidade de apoio que o Brasil entenda que precisa para enfrentar esta situação que nos tem que preocupar a todos. Agora, não podemos confundir o que está a acontecer na Amazónia com um acordo comercial muito importante", frisou o primeiro-ministro.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, acusa Jair Bolsonaro de mentir sobre compromissos ambientais e anuncia que, nestas condições, França vai votar contra o acordo de comércio livre UE-Mercosul.
“Tendo em conta a atitude do Brasil nas últimas semanas, o Presidente da República não pode se não constatar que o presidente Bolsonaro lhe mentiu na Cimeira de Osaka”, afirmou fonte da presidência francesa, referindo-se à Cimeira do G20 que se realizou no final de junho.
“O presidente Bolsonaro decidiu não respeitar os compromissos ambientais e não se empenhar em matéria de biodiversidade. Nestas condições, França opõe-se ao acordo com o Mercosul tal como está”, acrescentou.
Emmanuel Macron manifestou, na quinta-feira, preocupação com os fogos florestais que estão a devastar a Amazónia, a maior floresta tropical do planeta, evocando uma “crise internacional” e pedindo aos países industrializados do G7 “para falarem desta emergência” na cimeira que os reúne este fim de semana, em Biarritz, no sudoeste de França.
Jair Bolsonaro, por sua vez, acusa o homólogo francês de ter “uma mentalidade colonialista descabida” ao “instrumentalizar” o assunto e ao propôr que “assuntos amazónicos sejam discutidos no G7, sem a participação dos países da região”.