O arcebispo Socrates Villegas, da diocese de Lingayen-Dagupan, fez um apelo a que todos os sacerdotes e religiosos nas Filipinas abram “os seus corações e as casas paroquiais, conventos e seminários, bem como outros edifícios seguros” para acolher membros das forças de segurança que estejam dispostos a testemunhar contra a “guerra à droga” promovida pelo Presidente da República, Rodrigo Duterte.
Segundo o arcebispo, que termina agora o seu mandato como líder da Conferência Episcopal das Filipinas, membros da Igreja têm sido abordados por polícias e militares que quere contar a verdade.
“Membros das forças de segurança têm vindo ter connosco, seus líderes espirituais, em sigilo, para receber santuário, acolhimento e protecção. Expressaram um desejo de assumir publicamente a sua participação nas matanças extra-judiciais e execuções sumárias. Estão com problemas de consciência”, afirma o arcebispo, numa declaração divulgada na segunda-feira.
Desde que Duterte assumiu a presidência em Junho do ano passado, prometendo endurecer a luta contra a droga, que o número de mortes de alegados toxicodependentes e traficantes de droga disparou. Alguns grupos de defesa dos direitos humanos falam em sete mil mortos, mas a comunicação social local coloca o número de mortos entre os 10 e os 13 mil.
Duterte prometeu fechar os olhos às medidas extremas usadas por forças de segurança e milícias populares contra pessoas alegadamente envolvidas no tráfico de droga. O Presidente, que foi eleito precisamente com base em promessas de combater a droga e a criminalidade sem tréguas, já se gabou em mais do que uma ocasião sobre o número de mortes. Recentemente quando 32 pessoas perderam a vida num único dia afirmou publicamente “matemos mais 32 todos os dias e talvez consigamos resolver este problema”.
As Filipinas são um país de esmagadora maioria católica, mas Duterte continua a gozar de grande popularidade. Os bispos, contudo, têm-lhe feito frente desde o início do seu mandato, prometendo não se calar perante os abusos humanitários.
Contudo, a morte em Agosto de Kian Loyd, de 17 anos, tem motivado protestos. Imagens de câmaras de segurança mostram Kian a ser arrastado por agentes da polícia para um beco. O seu corpo foi encontrado mais tarde, baleado na cabeça.
No documento publicado por Socrates Villegas diz-se que a Igreja fará os possíveis para ajudar quem quiser testemunhar contra as matanças, e que todas as medidas serão tomadas para proteger os agentes e os membros do clero. “Se estes agentes da lei quiserem testemunhar então a Igreja Católica assegurará que não são induzidos a falar, a revelar ou a fazer alegações por parte de qualquer membro do clero ou da hierarquia. Quaisquer declarações ou deposições legais terão de ser feitas com assistência jurídica independente. Se quiserem permanecer connosco na Igreja não serão entregues ao Estado”.
A assistência jurídica aos interessados será sempre prestada por advogados leigos, garante ainda Villegas.