O plano para atacar a Universidade de Lisboa, desmantelado pela Polícia Judiciária, deverá ser um caso isolado, na origem do qual poderá estar a instabilidade emocional do jovem que foi detido, diz à Renascença o criminalista José Manuel Anes.
O antigo presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo (OSCOT) não afasta, também, o peso que poderá ter a intenção de imitar o que muitas vezes acontece em ataques deste género nos EUA.
José Manuel Anes destaca a importância da cooperação internacional para travar este atentado, que teria como alvo a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
“É de salientar a cooperação internacional: terá sido o FBI que fez o primeiro alarme e que dirigiu para a nossa polícia. Também é de salientar que terá havido uma cooperação da Unidade Nacional de Contraterrorismo com a Unidade Nacional de Cibersegurança, que é fundamental para fazer a pesquisa na internet, quer seja superficial, quer seja na Darknet. Temos uma Polícia Judiciária de grande valia e que está à altura deste tipo de ameaças. Claro que muitas vezes é difícil prever”, afirma o ex-presidente do OSCOT.
O jovem aluno de 18 anos foi detido esta quinta-feira, na posse de várias armas proibidas e de um plano detalhado do ataque.
Portugal não está habituado a casos destes de ações contra escolas ou universidades, ao contrário de países como os Estados Unidos. José Manuel Anes admite que podemos estar perante um suspeito instável e com problemas emocionais.
“Pode haver instabilidade emocional do jovem, pode haver uma ação de retaliação contra colegas que o humilharam ou professores. Tem havido vários atentados em universidades, mas norte-americanas. O FBI tem muita experiência no chamado terrorismo doméstico, que por vezes não é terrorismo, é uma loucura de um jovem que quer passar à história e não tem problemas em morrer.”
O criminalista diz que outro cenário passa por ligações do suspeito a organizações terroristas, mas até ao momento não há informação sobre as motivações.
“Depois há a possibilidade do terrorismo e o terrorismo tem que ter uma dimensão ideológica, política, laica ou religiosa. Não sabemos neste caso. Pode ser apenas instabilidade do jovem, ajuste de contas com colegas ou professores.”
O ex-presidente do OSCOT admite ainda que podemos estar perante um fenómeno de “imitação” de ataques noutros pontos do mundo.
“Imitação, com certeza. Isso acontece muitas vezes, porque veem a atenção que a comunicação social dá a ataques como na Universidade do Texas, por exemplo, e o jovem pensa: ‘também quero ficar na história, vão falar de mim’. É uma loucura completa, mas pode acontecer. Este jovem, não sei se estará ligado a alguma organização terrorista, mas provavelmente é um ato individual”, conclui José Manuel Anes.