A guerra é sempre uma tragédia. E as vítimas, as mesmas de sempre – civis, inocentes, de todas as idades e condições.
O ataque do Hamas é de uma brutalidade imensa e está a gerar uma resposta brutal do Estado de Israel.
Os serviços secretos israelitas não terão conseguido antecipar em tempo útil a ofensiva do Hamas, exatamente como sucedeu há precisamente 50 anos, na Guerra do Yom Kippur.
É impossível que os militantes do Hamas ignorassem, porém, o que se seguiria aos massacres que conduziram em território israelita. O Hamas não se limitou a atacar alvos militares ou a enfrentar as forças armadas de Israel. A principal característica do ataque do Hamas foi o massacre de civis, estivessem calmamente nas suas casas ou a participar num concerto (ironicamente) dedicado à paz.
A extrema-esquerda portuguesa já se está a posicionar e a apoiar a matança de centenas de inocentes, como forma legítima de combate a Israel. A extrema-esquerda portuguesa encolheu-se na condenação à Rússia pela invasão militar da Ucrânia e subscreve agora métodos puramente terroristas como aqueles que o Hamas utilizou contra populações indefesas.
Ao fazê-lo, o Hamas sabia que a resposta seria devastadora. Ao assassinar e raptar centenas de civis israelitas, o Hamas tinha consciência de que nesse preciso momento estava a entregar à morte centenas ou milhares de palestinianos.
Depois de um ataque terrorista desta natureza, a solução política para a Palestina ficará também mais distante e dolorosa. Nem ataques terroristas como estes nem a resposta militar avassaladora em curso ajudarão a sarar feridas e a abrir caminho para a paz e para uma solução política duradoura que respeite israelitas e palestinianos.
Tudo isto o Hamas sabia. E tudo sabendo, incluindo o genocídio dos palestinianos e o risco do seu próprio suicídio militar e político, os responsáveis do Hamas decidiram avançar. Decidiram ou alguém os instigou a avançar.
O carácter inesperadamente brutal do ataque do Hamas levou a que, num ápice, os holofotes se tenham deslocado para o Médio Oriente e a guerra na Ucrânia passado para segundo plano.
Os Estados Unidos - já a braços com cisões políticas internas sobre a ajuda à Ucrânia e com um ano eleitoral à porta – têm muito a perder, com a reabertura de uma crise militar, política e humanitária no médio oriente. Mesmo em Washington, os recursos financeiros têm um limite. E as opções geoestratégicas americanas não são imunes aos lobbies, incluindo os de natureza judaica.
Também num ápice, mas sem a mesma gravidade imediata, tivemos notícia, nas últimas semanas, do regresso dos confrontos militares entre Azerbaijão e Arménia. E de repente, igualmente nos últimos dias, fomos confrontados com o aumento da tensão entre a Sérvia e o Kosovo, devido à concentração anormal de tropas sérvias junto à fronteira.
O aumento da instabilidade militar na Europa ou no Médio Oriente, designadamente por forças políticas e militares que ainda são ou foram velhos aliados de Moscovo, desvia as atenções do conflito da Ucrânia.
Objetivamente, o aumento da desestabilização internacional e a proliferação de focos de conflito permitem à Rússia (pelo menos teoricamente) uma de duas coisas: aumentar a pressão militar no terreno sem o mesmo empenho do ocidente na ajuda à Ucrânia ou criar condições para que algumas das suas reivindicações sejam finalmente toleradas pela comunidade internacional e Putin possa assim perder a guerra (por não ter derrubado o governo de Kiev), mas sem perder a face.
Pode ser coincidência, mas a potência mundial que sai diretamente a ganhar com este conflito orquestrado no Médio Oriente é a Rússia. E Moscovo tudo fará para aproveitar o momento.