A presidente da Humanitas - Federação Portuguesa para a Deficiência Mental, Helena Albuquerque, lamenta que a temática da deficiência intelectual esteja excluída da campanha eleitoral em curso.
É neste quadro que a Humanitas pede um espaço próprio e avança com uma petição para criar o Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual, a 10 de maio.
"A palavra 'deficiência' nunca apareceu nos debates nem na campanha eleitoral, pelo menos até agora. Nos programas eleitorais, aparece muitas vezes, mas 'en passant', digamos assim, e falando da deficiência geralmente, não propriamente dos temas que nos interessam na área da deficiência intelectual”, aponta Helena Albuquerque à Renascença.
“As pessoas percebem o que é não andar, o que é não ver. Agora, a deficiência intelectual é uma deficiência que as pessoas, em geral, sentem pouca empatia”, acrescenta.
Ao assinalar 20 anos de existência, a Humanitas decidiu lançar uma petição para a criação do Dia Nacional da Pessoa com Deficiência Intelectual.
“Estamos a espalhar as folhas de recolha de assinatura, essencialmente pelas nossas associadas e por outras instituições ligadas à deficiência intelectual que se estão a juntar a este nosso projeto”, explica.
Para a petição ser discutida no Parlamento, são necessárias 7.500 assinaturas. Nesta altura, "online", há cerca de 80, mas a aposta é na recolha presencial. Helena Albuquerque está confiante porque “só a Humanitas tem cerca de 40 associadas".
"Esperamos, facilmente, chegar às oito mil”, embora assuma que o objetivo seja atingir 10 mil assinaturas
Porquê 10 de maio?
A data de 10 de maio assinala o nascimento de Dwight Mackintosh, em 1906, na Califórnia. Mackintosh diagnosticado como “atrasado mental” aos 16 anos e viveu em instituições psiquiátricas durante 56 anos, mas tornou-se num dos pintores mais conhecidos dos Estados Unidos.
“Nessa altura, início do séc. XX, eram instituições com condições degradantes, as pessoas eram separadas da família, separadas da sociedade, eram quase malditas”, conta a dirigente.
Assiste-se a uma nova fase, nos anos 60, com o movimento parental porque “os pais recusam-se a mandar os filhos para as instituições”. Em Portugal, a época é marcada pela criação da APPACDM de Lisboa, em 1962.
"Com a criação do Dia Nacional nessa data, nós queremos lembrar a história deste artista e representar este salto, de uma pessoa que vive em situações degradantes e sente o estigma da deficiência intelectual, que apesar de tudo ainda hoje é grande, mas que se supera e marca a história.”
Há avanços mas ainda muitos obstáculos
“O paradigma mudou, há a bandeira que todos seguimos « Nada sobre nós sem nós», dando à pessoa com deficiência a capacidade de escolher, de sonhar e de partilhar o seu sentir, mas enquanto as deficiências física e sensorial conseguem acompanhar este movimento, a deficiência intelectual começa a esbarrar porque tem especificidades próprias”, diz Helena Albuquerque, para sublinhar que “é exatamente isso que queremos lembrar e debater num espaço temporal próprio”.
Já existe um Dia Internacional para a Pessoa com Deficiência, assinalado a 3 de Dezembro, mas não chega, “porque falando da deficiência em geral nós somos os mais esquecidos”.
A ideia de um Dia Nacional para esta temática visa a sensibilização da sociedade, para “chamar as pessoas, os órgãos governamentais, regionais, políticos, culturais, económicos, etc., que venham ver as nossas casas, que venham conversar com os nossos jovens, com as pessoas com Deficiência Intelectual que apoiamos”.
Helena Albuquerque reconhece que tem de se começar por quem está envolvido na causa e percebe a mensagem da petição, e depois chegar a mais pessoas. Explica que no processo da recolha de assinaturas, há cinco vetores fundamentais: “As pessoas com deficiência intelectual, as famílias, os colaboradores, os parceiros e os voluntários, e os nossos fornecedores. A mensagem de grande envolvimento da sociedade só se fará depois da criação do Dia e com as nossas iniciativas.”
A recolha de assinaturas decorre até 15 de abril e a petição está disponível na página do Parlamento, neste endereço.
A presidente da Humanitas conclui: "O que queremos é motivar mais pessoas para que esta seja uma causa nacional.”