Vai ser apresentado, nesta terça-feira de manhã, o já célebre plano de recuperação económica e social, preparado por António Costa Silva a pedido do Governo.
O documento – intitulado “Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica e Social de Portugal 2020-2030” – começa por traçar um cenário negro das consequências económicas e sociais da pandemia.
Não vale a pena ter ilusões, alerta António Costa Silva logo no início: a crise sanitária causada pela Covid-19 trouxe consigo uma profunda recessão económica que tem características globais e que vai atingir profundamente a economia portuguesa.
- A economia poderá cair 12% em 2020 – um recuo muito superior ao de 7% previsto pelo Governo
- O consumo pode registar uma queda de 11%
- O investimento de 26%
- Taxa de desemprego pode chegar aos 11,5%.
São números apresentados no documento de Costa Silva, onde o consultor perspetiva que, já a partir de setembro, a situação de muitas empresas poderá deteriorar-se significativamente.
Defende, por isso, que deve existir no terreno um programa agressivo para evitar o colapso de empresas rentáveis.
O que poderá ser esse programa para apoiar as empresas?
Desde logo prevê um grande apoio a empresas exportadoras, mas também um programa de apoio à reestruturação de empresas, apoiando a recuperação de empresas mais produtivas, através de mecanismos de incentivo e créditos, dedução de prejuízos acumulados e incentivos a fusões para criar massa crítica na economia.
Essa revitalização também pode passar pelo investimento público?
Sim. Costa Silva recomenda:
- a expansão das redes do Metro de Lisboa e do Porto, incluindo aqui a construção de uma nova travessia do Douro a montante da ponte da Arrábida, com aposta na mobilidade elétrica
- a retoma do projeto de ligação entre o Porto e Lisboa por alta velocidade (TGV)
- a construção do eixo ferroviário Sines-Madrid e a renovação da Linha da Beira Alta – dois eixos, que considera fundamentais para o tráfego de mercadorias para Espanha
- a construção de um novo aeroporto de Lisboa.
E temos profissionais para isso tudo?
Costa Silva defende que Portugal deve formar mais engenheiros e começar por atrair os alunos do ensino secundário para a profissão.
Propõe inclusive a criação de 'kits' pedagógicos ilustrativos das profissões mais necessárias para atrair os estudantes.
Segundo o gestor e engenheiro de minas contratado pelo primeiro-ministro, o país precisa de engenheiros, não só de software ou eletrotecnia, mas também mecânicos, civis, químicos, mineiros, físicos tecnológicos e aeroespaciais.
Fica a dica para os estudantes que, a 7 de agosto, se vão candidatar ao ensino superior.
E o turismo, tão sacrificado pela pandemia?
Costa Silva começa por lembrar que o turismo representa 13% do PIB e, por isso, é preciso promover um grande plano para captar a atenção dos mercados mais importantes.
Deve apostar-se na qualidade e ter como indicadores, não só o número de visitantes, mas também a rentabilidade por turista.
A oferta deve passar pelo turismo da natureza, o turismo da saúde, o turismo cultural e o turismo oceânico.
Costa Silva avisa que deve evitar-se o recurso sistemático a mão-de-obra precária e desqualificada.
E no plano da Saúde e da Justiça?
No que toca à Justiça, a estratégia hoje apresentada pede mais rapidez e a simplificação das etapas dos processos judiciais.
Sugere que saiam dos tribunais os processos relacionados com as insolvências e fiscalidade, por exemplo, porque entopem o sistema.
Quanto à Saúde, defende a construção de quatro hospitais: o de Lisboa Oriental, do Seixal, de Évora e do Algarve.
Propõe também:
- a ampliação da Rede Nacional de Cuidados Continuados e
- que os centros de saúde sejam dotados de meios de diagnóstico em termos de radiologia e de colheita de análises para diminuir o recurso às urgências hospitalares.
A "Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica e Social de Portugal 2020-2030” tem 120 páginas com dezenas de propostas e é apresentada nesta manhã, numa cerimónia no Centro Cultural de Belém, em Lisboa.