Esta segunda-feira ficou a saber-se que as escolas e colégios privados já estão com as pré-inscrições praticamente esgotadas para o próximo ano letivo.
No Explicador Renascença, recordamos que o diretor executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo, Rodrigo Queiroz, disse que há mesmo colégios "com mais pré-inscrições do que é habitual”.
A notícia surge num contexto de greves de professores que deixaram muitos alunos do ensino público sem aulas e escolas com funcionamento incerto.
Porque é que se não se fala em greves no privado?
Nem todos os trabalhadores, docentes e não docentes, estão satisfeitos, mas o que acontece num colégio é que há "um grande alinhamento entre o empregador e o colaborador", segundo o diretor executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo.
Portanto, o que acontece é que quando a direção de um colégio contrata um professor ou um funcionário, é porque está mesmo interessada naquela pessoa
No particular consegue-se, assim, fazer uma melhor gestão de recursos humanos, com liberdade para dar melhores condições, seja pagando mais, seja atribuindo a liderança de algum projeto.
No ensino publico já não é bem assim.
Porque é que no ensino público isso não acontece?
Nas escolas públicas os professores são colocados na sequência de um concurso nacional mediante uma lista graduada.
Por isso, um professor pode ir parar a uma escola que não quer, num sítio que não gosta, com um ambiente com o qual não se identifica.
O que acontece muitas vezes é que a escola acaba por ser um ponto de passagem, porque em futuros concursos esse docente já pode ficar noutro sítio, com outros alunos.
No ensino privado há uma maior estabilidade?
Sim. Há o que a Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo descreve com uma “estabilidade nas relações com as pessoas”.
Ano após ano, os profesores vão ficando e o relacionamento laboral, muitas vezes, dá lugar a relações de amizade.
Agora, para que isto seja possível, são necessários instrumentos de gestão e autonomia para contratar.
A autonomia não pode facilitar despedimentos?
Sim. É como qualquer empresa privada.
A direção de um colégio tem liberdade para negociar, seja para reter um profissional, seja para o dispensar.
Assim como também tem margem para mexer nos salários.
O Estado paga melhor que o privado?
Há essa perceção e as tabelas remuneratórias são, de facto, mais atrativas no sector público.
Mas nesta fase, como há falta de professores, eles acabam por ter poder negocial e há colégios que estão “a pagar claramente acima da tabela", refere Rodrigo Queiroz.
O diretor executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo dá como exemplo uma estratégia que tem estado a ser seguida: Contratar o professor de um escalão acima daquele em que se encontra, ou seja, é promovido ainda antes de iniciar funções.
Portanto, os melhores professores - ou os que lecionam disciplinas em que há mais falta de docentes - recebem melhor.
O ensino privado não pode acentuar desigualdades?
Esse é um risco que tem sido apontado por muitos estudiosos da área.
Aliás, foi admitido durante a pandemia e, agora, nesta altura de protestos e greves do pessoal docente e não docente, as escolas estão a viver um período complicado.
A greve por distritos da Fenprof decorre em Castelo Branco, esta segunda-feira. Esta terça-feira vai ser em Coimbra. Para o proximo sábado há manifestação nacional, em Lisboa, convocada pelo STOP.
E, para já, não há perspetiva de quando regressa a normalidade
Existe mesmo uma "corrida" aos colégios privados?
Sim. As famílias estão com receio e milhares de alunos estão sem aulas nas escolas pública.
Ao contrário do que habitualmente acontece, há muitos colégios já com as inscrições esgotadas para o próximo ano letivo.
O diretor executivo da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo fala num claro investimento que as famílias optam por fazer, sendo que muitas vezes contam até com o apoio dos avós para pagar as mensalidades.