O congressista norte-americano George Santos, o republicano de Nova Iorque que ficou conhecido por inventar parte da sua história de vida, foi detido, esta quarta-feira, na sequência de acusações criminais federais, antes da aguardada audiência em tribunal.
Espera-se que compareça pela primeira vez perante o tribunal, em Long Island, ainda hoje, altura em que as acusações de que é alvo deverão ser divulgadas.
Contactado na terça-feira pela agência de notícias norte-americana Associated Press (AP), Santos, de 34 anos, disse não ter conhecimento das acusações.
George Santos foi eleito para a Câmara dos Representantes (câmara baixa do Congresso dos Estados Unidos) nas eleições intercalares do outono passado.
"Enfeites inofensivos" e outras alegações de crimes
Durante a campanha, disse às pessoas que era um abastado negociante de Wall Street de origem judaica, com uma substancial carteira de investimentos em imobiliário, e que tinha sido uma estrela do voleibol na universidade, entre outras coisas.
Na realidade, nunca trabalhou nas grandes empresas financeiras que afirmou terem-no contratado, não frequentou a universidade e enfrentou dificuldades financeiras antes de se candidatar ao Congresso - o que acabou por admitir, referindo-se às mentiras que inventou como "enfeites inofensivos" do seu currículo.
Também surgiram dúvidas quanto às suas finanças: nos registos regulamentares, Santos indicou ter emprestado à sua campanha e comissões de ação política relacionadas mais de 750 mil dólares (682 mil euros), mas não era claro como tão rapidamente tinha acumulado este capital, depois de anos em que se debateu com dificuldades para pagar a renda e durante os quais enfrentou várias ações de despejo.
Numa declaração de rendimentos às finanças, Santos reportou ganhar anualmente 750 mil dólares (682 mil euros), além de lucros de uma empresa da família, a Devolder Organization. Posteriormente, descreveu esse negócio como um intermediário de venda de artigos de luxo, como iates e aviões.
A empresa foi fundada no Estado da Florida pouco depois de Santos ter deixado de trabalhar como vendedor para uma companhia acusada pelas autoridades de funcionar com base num ilegal esquema Ponzi.
Muitos dos representantes Republicanos eleitos pelo Estado de Nova Iorque instaram-no a demitir-se, depois de as suas mentiras terem sido descobertas, e alguns reiteraram as suas críticas à medida que alastravam as informações sobre o seu caso criminal.
"O George Santos devia ter-se demitido em dezembro. O George Santos devia ter-se demitido em janeiro. O George Santos devia ter-se demitido ontem (terça-feira). E talvez se demita hoje. Mas, mais cedo ou mais tarde, seja ou não essa a sua escolha, terá de enfrentar tanto a verdade como a justiça", declarou o congressista Marc Molinaro, um republicano que representa partes do norte do Estado de Nova Iorque.
O presidente da Câmara dos Representantes, o republicano Kevin McCarthy, eleito pelo Estado da Califórnia, foi mais comedido, afirmando: "Acho que nos Estados Unidos se é inocente até prova em contrário".
Santos já anteriormente tinha sido alvo de acusações criminais, a primeira vez das quais quando tinha 19 anos.
Nessa altura, esteve no centro de uma investigação criminal no Brasil, motivada por alegações de que usara cheques roubados para comprar roupas numa loja. As autoridades brasileiras indicaram que reabriram o caso.
Em 2017, foi acusado de roubo no Estado da Pensilvânia, depois de as autoridades afirmarem que gastara milhares de dólares, pagos com cheques fraudulentos, na compra de cães de raça. Esse caso foi arquivado quando Santos alegou que o seu livro de cheques tinha sido roubado e que outra pessoa tinha comprado esses cães.
As autoridades federais norte-americanas têm estado a investigar em separado queixas sobre o trabalho de recolha de fundos realizado por Santos para um grupo que ajudava animais de estimação maltratados e abandonados. Um veterano de Nova Jérsia acusou-o de não entregar 3.000 dólares (2.734 euros) que tinha angariado para ajudar a pagar uma cirurgia de que o seu cão necessitava.