O Congresso dos EUA permanece dividido sobre a continuidade do apoio ao esforço de guerra da Ucrânia contra a Rússia e de Israel contra o grupo islamita radical Hamas.
O Presidente dos EUA, Joe Biden, fez no passado fim de semana um apelo urgente para que o Congresso não desista de financiar os pacotes de ajuda militar e humanitária na Ucrânia e em Israel, mas as suas palavras foram recebidas com muito ceticismo no Capitólio, onde a maioria republicana na Câmara de Representantes tem uma agenda política com outras prioridades.
O novo líder da maioria republicana, Mike Johnson, conseguiu fazer aprovar uma proposta de consenso para evitar a suspensão do Governo federal por falta de fundos, mas deixou de fora qualquer novo pacote de ajuda à Ucrânia.
Em relação a Israel, os republicanos ainda apresentaram uma proposta que incluía mais financiamento para ajudar na luta contra o grupo islamita Hamas, mas apenas em troca de profundos cortes orçamentais, o que os democratas se recusaram a aceitar.
O líder da minoria republicana no Senado, Mitch McConnell, e o líder da maioria republicana na Câmara concertaram-se para negociar com os democratas um novo pacote de ajuda à Ucrânia, mas disseram de forma clara que essa possibilidade ficaria dependente de leis mais restritivas para a imigração.
Para os republicanos, a agenda política dos próximos tempos vai centrar-se nas questões da imigração, quando cresce a pressão de entradas através da fronteira com o México, num tema que tem unido os vários candidatos conservadores nas eleições primárias para as presidenciais e que entusiasma particularmente o favorito, Donald Trump.
"Não podemos aceitar esta forma de chantagem", disse o senador democrata Chris Murphy, que integra a delegação do seu partido na comissão que está a negociar soluções para o problema migratório e que tem vindo a queixar-se da forma como os republicanos procuram tratar este tema como moeda de troca para a política externa da Casa Branca.
Em outubro, a Casa Branca pediu um pacote de ajuda suplementar para a segurança nas fronteiras no valor de 13,6 mil milhões de dólares (cerca de 12,5 mil milhões de euros), que garantiriam a contratação de mais 1.300 agentes de controlo, mas os republicanos insistem em recuperar a ideia de Trump de ampliar o muro ao longo da fronteira.
Biden esperava que este sinal de reforço de controlo da fronteira permitisse uma maior flexibilidade do Congresso relativamente à ajuda militar à Ucrânia e a Israel, mas esbarrou contra divisões internas dentro dos dois partidos, que têm dificultado avanços na aprovação de novos pacotes de auxílio militar e humanitário para os dois conflitos.
Na passada segunda-feira, o secretário de Defesa norte-americano, Lloyd Austin, visitou a Ucrânia, levando ao Presidente Volodymyr Zelensky uma mensagem de confiança na continuidade da ajuda dos EUA, mas o Governo ucraniano tem sabido através dos 'media' que o Congresso em Washington está longe de poder corroborar as palavras do chefe do Pentágono.
"Estamos a ter de tomar decisões difíceis neste momento sobre os pacotes de assistência de segurança à Ucrânia, porque estamos a chegar ao fim de linha e a Ucrânia continua envolvida numa luta ativa e dinâmica em todas as frentes", reconheceu esta semana John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca.
Relativamente a Israel, o tema é ainda mais delicado, já que as sondagens indicam que o posicionamento de Biden face ao conflito no Médio Oriente está a ser uma variável que o prejudica na sua popularidade, no momento em que o Presidente está a preparar-se politicamente para lutar por um segundo mandato.
As divisões dentro do próprio Partido Democrata sobre a estratégia da Casa Branca para Israel também não ajudam nas negociações com os republicanos sobre os novos pacotes de ajuda, tendo já obrigado as comissões de acompanhamento deste dossiê a prolongar os trabalhos para conseguir autorização de financiamento.