Os dois melhores notas de todo o Iraque para o acesso à universidade foram alcançadas por dois alunos da comunidade yazidi que vivem em campos de refugiados, depois de terem sido perseguidos pelo Estado Islâmico em 2017.
Heba Qassim e Nawaf Elias vivem respetivamente nos campos de refugiados de Qadia e de Sharya no Curdistão iraquiano, para onde fugiram com as suas famílias em condições de grande pobreza e sem acesso a muitos cuidados básicos. Os campos acolheram membros da comunidade yazidi, uma minoria religiosa, de etnia curda, que foi perseguida com particular ferocidade pelos jihadistas do Estado Islâmico quando o grupo terrorista ocupou os seus territórios ancestrais na região do Monte Sinjar, na Província de Nínive, no Iraque.
Milhares de homens e rapazes foram sumariamente executados pelo Estado Islâmico e pelos seus vizinhos árabes e as mulheres foram levadas como escravas sexuais pelos terroristas.
Apesar de todas as contrariedades que teve de enfrentar, Heba Qassim conseguiu disse ao jornal Al-Monitor que conseguiu estudar e alcançar o seu objetivo de ter a melhor nota do 12.º em todo o Iraque. Ao mesmo jornal Elias lamentou a falta de condições para estudar nos campos de refugiados, incluindo a escassez de material como cadernos e manuais escolares, e também os muitos obstáculos que dificultam o acesso às escolas oficiais, como a distância, os perigos e os muitos postos de controlo nas estradas.
Perante os desafios muitos jovens nos campos de refugiados desistem dos estudos e só os mais persistentes é que acabam o 12.º. Os resultados, no entanto, não deixam de ser surpreendentes, com 25 yazidis a conseguirem figurar entre as notas mais altas dos exames de acesso deste ano.
Infelizmente os problemas não acabam aí. Quando conseguem entrar para a faculdade muitos dos alunos têm dificuldade em chegar às universidades de destino ou suportar os custos das propinas e dos dormitórios. A possibilidade de estudar online, que tem sido explorada por muitos alunos em todo o mundo por causa da pandemia, não está ao alcance de muitos dos habitantes dos campos de refugiados, uma vez que os campos com internet tendem a ter ligações instáveis e os restantes nem isso.
Os yazidis são naturais da região do Sinjar e do Nordeste do Iraque, mas existe uma comunidade significativa de expatriados que têm tentado ajudar na medida do possível. Entre estes encontra-se Nadia Murad, uma ex-prisioneira do Estado Islâmico que recebeu o Nobel da Paz e tem ajudado a financiar a reconstrução de 12 escolas na região de Sinjar.