“A um passo da fome severa”. Assim estão mais de 30 milhões de pessoas no mundo
24-03-2021 - 08:51
 • Marta Grosso

O alerta chega da ONU, segundo a qual a pandemia, a crise climática e vários conflitos armados são os três fatores detonadores dos níveis "alarmantes" de fome existentes. “É responsabilidade de todos nós agir agora”.

A fome severa deverá aumentar em mais de 20 países nos próximos meses, avisam duas agências das Nações Unidas: FAO e Programa Mundial Alimentar, Prémio Nobel da Paz em 2020.

A Agência para a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO) e o Programa Mundial Alimentar (PMA), estimam que 34 milhões de pessoas se encontrem em níveis de emergência de fome aguda – conhecidos como IPC (Classificação de Fase de Segurança Alimentar Integrada) 4, o que significa que estão "a um passo da fome".

“A magnitude do sofrimento é alarmante”, afirma o diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, para quem “é responsabilidade de todos agir agora e rapidamente para salvar vidas, salvaguardar meios de subsistência e prevenir a pior situação”.


Tal conjuntura é promovida por conflitos, choques climáticos e pela pandemia de Covid-19, fatores agravados, nalguns locais, por tempestades de gafanhotos do deserto, referem as organizações num relatório publicado na terça-feira.

Norte da Nigéria, Iémen e Sudão do Sul encabeçam a lista de lugares que enfrentam níveis "catastróficos" de fome aguda, afirmam as agências.

A maioria dos piores locais identificados no relatório estão em África, mas também existem noutras regiões.

Devemos correr contra o relógio e não deixar escapar esta oportunidade de proteger, estabilizar e até mesmo aumentar a produção local de alimentos”, urge Qu, da FAO.

Há “uma catástrofe a desenrolar-se diante de nossos olhos”, sublinha, por seu lado, o diretor executivo do PMA, David Beasley. “A fome – impulsionada por conflitos e alimentada por choques climáticos e pela pandemia Covid-19 – está a bater à porta de milhões de famílias.”

Três ações importantes

São necessárias três coisas importantes para impedir que “milhões morram à fome”, afirma David Beasley: suspensão dos combates, maior acesso às comunidades vulneráveis e um aumento nas doações.

No início deste mês, a FAO e o PMA pediram 5,5 mil milhões de dólares (cerca de 4.600 mil milhões de euros) para evitar a fome, por meio de assistência alimentar humanitária, dinheiro e intervenções emergenciais de subsistência.

A América Latina é a região mais atingida pelo declínio económico e será a mais lenta a recuperar, conclui o relatório. No Oriente Médio, o Iémen, a Síria e o Líbano são seriamente afetados pela rápida depreciação da moeda e pela inflação vertiginosa.


Mais de 7 milhões de pessoas em todo o Sudão do Sul deverão enfrentar níveis de crise de insegurança alimentar aguda durante o período de abril a julho, diz ainda o relatório, enquanto mais de 16 milhões de iemenitas deverão experimentar altos níveis de insegurança alimentar aguda até junho – um aumento de três milhões desde o final do ano passado.

Burkina Faso, Afeganistão, República Democrática do Congo, Etiópia, Haiti, Sudão e Síria são outros países que constam entre os piores focos de fome no mundo.

Segundo o secretário-geral da ONU, mais de 88 milhões de pessoas passavam fome aguda no final de 2020, na sequência de conflitos e instabilidade. O número representa um aumento de 20% face ao ano anterior e a previsão é que continue a aumentar em 2021.

Em termos globais, são mais de 800 milhões o número de pessoas a passar fome em todo o mundo, severa ou menos grave.