Como é que os bancos em Portugal conseguiram em 2022 um dos melhores resultados dos últimos anos?
Os cinco maiores bancos a operar em Portugal tiveram quase 2,6 mil milhões de euros em 2022, o que significou um aumento de cerca de 70% face ao ano anterior
Fazendo contas, em média, por dia os bancos tiveram cerca de sete milhões de euros.
Os bons resultados resultaram da subida das taxas de juro?
No ano passado a banca teve como grande ajuda, a subida brusca das taxas de juro, decididas desde julho pelo Banco Central Europeu. De recordar que esta foi uma aposta dos governadores dos bancos centrais de forma a controlar a inflação. Por arrasto têm subido as taxas Euribor, que depois de terem estado negativas, funcionaram como um verdadeiro trampolim para a subida dos lucros dos bancos.
Por outro lado, este efeito, da subida das taxas de juro, não se está a fazer sentir na remuneração dos depósitos. As taxas praticadas continuam muito baixas, apesar das críticas de clientes e políticos.
A banca já começou a dar sinais de que vai começar gradualmente a aumentar os juros dos depósitos.
De que forma as comissões bancárias contribuíram para os resultados da banca?
No ano passado, os clientes bancários pagaram aos bancos cerca de 2,5 mil milhões de euros, valor bruto, depois a banca tem de descontar a despesa que teve com os serviços que prestou aos clientes.
Praticamente todos os serviços têm um preço, principalmente o que é feito de forma presencial. Por exemplo: levantar dinheiro ao balcão pode custar até 15 euros, depositar as moedas do mealheiro, por cada cem moedas, em média, é preciso pagar cerca de sete euros.
Mas há outras comissões consideradas abusivas pela Associação Portuguesa para a Defesa do Consumidor (DECO), como seja, alterar o nome dos titulares da conta, que pode custar até 15 euros, já pedir uma segunda via do extrato bancário é mais caro, pode custar até 26 euros.
Os bancos cortaram na despesa?
Os bons resultados também foram conseguidos porque os bancos cortaram na despesa. Não nos podemos esquecer que estiveram em processo de reestruturação, o mesmo é dizer, que dispensaram trabalhadores e encerraram balcões. Foram dispensados, pelos cinco maiores bancos, cerca de 700 trabalhadores e encerrados mais de uma centena de balcões. A Caixa Geral de Depósitos destacou-se neste processo de reestruturação.
Até que ponto, os bancos beneficiaram da ajuda do Estado?
Há dois bancos que se destacam: a Caixa Geral de Depósitos contraiu uma dívida de cerca de 5 mil milhões e meio de euros, em 2017. Na apresentação de resultados de 2022, há cerca de uma semana, o presidente executivo da Caixa anunciou que vai devolver ao Estado 350 milhões de euros. Com mais esta fatia a CGD já pagou quase metade da divida.
Quanto ao Novo Banco, o plano de reestruturação já foi dado como concluído este ano. De recordar que o Novo Banco foi criado em agosto de 2014, na sequência da falência do Banco Espirito Santo. Depois foi desenhado um processo de recuperação e o Estado injetou inicialmente quase quatro mil milhões de euros. Desde 2018 já fez injeções de quase 3,4 mil milhões de euros.
Apesar do processo estar concluído, o presidente executivo do Novo Banco, o irlandês Mark Bourke, ainda dia 9 de março disse que uma vez que o mecanismo está disponível até 2025, a instituição ainda poderá recorrer ao Fundo de Resolução. Forma declarações feitas depois do Novo Banco ter anunciado que no ano passado triplicou os lucros para quase 561 milhões de euros.
Desde 2008, o Estado já meteu nos bancos mais de 29 mil milhões de euros. deste montante foram devolvidos 7 mil milhões de euros, portanto, há um saldo negativo a rondar os 22 mil milhões de euros, de dinheiro que é dos contribuintes.