A Associação do Alojamento Local em Portugal (ALEP) exigiu esta segunda-feira um esclarecimento da Câmara de Lisboa sobre a intenção de acabar com alojamento local na capital, para o transformar em casas para trabalhadores, no âmbito da pandemia da covid-19.
Em causa está um artigo de opinião do presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina (PS), publicado no jornal "The Independent", em que o autarca da capital portuguesa diz que, “depois do coronavírus, Lisboa vai livrar-se dos 'Airbnb' [plataforma online com imóveis de alojamento local] e transformar os arrendamentos de férias de curta duração em casas para trabalhadores essenciais”.
Manifestando “grande surpresa” nas palavras escritas pelo presidente da Câmara de Lisboa, a ALEP considerou que a posição assumida por Fernando Medina neste artigo de opinião “é muito distinta” daquela que apresentou, “há poucas semanas”, à associação e, também, “nunca foi uma posição defendida por ele publicamente antes”.
“Por serem posições tão díspares, num espaço tão curto de tempo, a ALEP considera ser fundamental, antes de qualquer reação, que o próprio presidente da Câmara esclareça o teor do título do artigo, confirmando-o ou desmentindo-o”, avançou a ALEP, numa publicação na página de Facebook.
Neste sentido, a associação que representa o setor do alojamento local em Portugal já fez chegar à Câmara de Lisboa um pedido de esclarecimento sobre o artigo publicado no jornal The Independent.
O presidente da ALEP, Eduardo Miranda, explicou que apenas poderá reagir após um esclarecimento do autarca, adiantando que o problema está no título do artigo: "Depois do coronavírus, Lisboa vai livrar-se dos Airbnb e transformar os arrendamentos de férias de curta duração em casas para trabalhadores essenciais".
Entretanto, o título do artigo foi atualizado para “Depois do coronavírus, Lisboa está a substituir alguns Airbnbs e transformar os arrendamentos de férias de curta duração em casas para trabalhadores essenciais”.
Publicado no sábado no jornal britânico "The Independent", o artigo de opinião do presidente da Câmara de Lisboa, Fernando Medina, refere que “os arrendamentos de férias no estilo 'Airbnb' ocupam mais de um terço dos imóveis no centro da cidade de Lisboa, aumentando os preços de rendas, esvaziando as comunidades e ameaçando o seu caráter único”.
“Os trabalhadores essenciais e as suas famílias são cada vez mais forçados a sair", indicou Fernando Medina, reconhecendo que, nos últimos anos, Lisboa beneficiou dos “milhões de turistas”, mas a cidade pagou “um preço social”.
Neste sentido, o presidente da Câmara de Lisboa quer trazer de volta ao centro da cidade “aqueles que são a força vital”, inclusive trabalhadores que estão na linha da frente no combate à pandemia da covid-19, sem esquecer o desígnio de tornar a capital portuguesa “mais verde, sustentável e, em último grau, um sítio melhor tanto para viver como para visitar".
Assim, Fernando Medina priorizou a disponibilidade de “habitação acessível para trabalhadores de hospitais, transportes, professores e milhares de outras pessoas que disponibilizam serviços essenciais”, oferecendo-se para pagar aos proprietários para transformar milhares de imóveis em arrendamento de curto prazo em casas de "renda segura".
Ao garantir que mais pessoas possam viver no centro da cidade de Lisboa, Fernando Medina apontou os possíveis impactos positivos para o ambiente, sustentando que "cidades mais densas significam menos pessoas a deslocar-se para o centro a cada dia".
“Menos veículos na estrada significa menos poluição e emissões nocivas que envenenam o ar que respiramos, além de contribuir para o aquecimento global”, realçou o autarca de Lisboa, adiantando que os residentes do centro da cidade podem chegar a serviços essenciais “em caminhadas de 20 minutos".
Ressalvando que “nada disto significa que Lisboa não quer receber turistas", Fernando Medina argumentou que esta "é simplesmente a forma de fazer as coisas de forma diferente e, em última instância, beneficiar os visitantes".
No artigo de opinião, o presidente da Câmara de Lisboa revelou que está a trabalhar com congéneres de Milão, Melbourne, Freetown, Seul e muitas outras cidades da rede C40 (Grupo de Grandes Cidades para Liderança Climática), “para determinar o que é uma recuperação verde e justa da pandemia de covid-19”.