O líder do PSD, Rui Rio, diz que "o que está em cima da mesa é gravissímo", referindo-se à revelação por parte da Câmara Municipal de Lisboa dos nomes, moradas e contactos telefónicos das três pessoas – duas delas têm nacionalidades russa e portuguesa – depois de estas terem organizado uma manifestação contra a detenção do ativista Alexei Navalny, em frente à embaixada da Rússia, em Lisboa. O evento remonta a janeiro deste ano.
Rio diz que basta que cada um de nós se coloque na posição do trio de russos para perceber que isto "põe as pessoas em perigo", talvez não em Portugal mas se regressarem à Rússia, e que o que se passou "não pode ser justificado com dissintonias administrativas".
O presidente do PSD pôs a tónica naquilo que considera um "ato gravíssimo" com "reflexos no estrangeiro ao nível da reputação do nosso país". "É uma vergonha para Portugal (...) Isto é intolerável e nenhum governo da União Europeia o faria", sublinhou.
"A Câmara Municipal de Lisboa denunciou ativistas pela liberdade e democracia contra um governo que não respeita essa liberdade e democracia", afirmou.
Rio ao contrário do que aconteceu com o candidato do PSD à autarquia de Lisboa, Carlos Moedas, não pede para já demissão de Fernando Medina. Segundo o social-democrata falta ainda esclarecer alguns contornos do caso, e o mesmo disse ser necessário saber se esta situação ocorreu com outras pessoas de outras nacionalidades.
Só no fim do processo, se vão apurar responsabilidades e aí, segundo Rui Rio, poderá ser altura para exigir a saída de Fernando Medina do cargo que ocupa.
Para Rio, "as pessoas ainda não absorveram a gravidade do que se passou", e isto não equivale a uma rua que não se arranjou, ou uma promessa que não se cumpriu.
O presidente do PSD pediu ainda a audição do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, no Parlamento para que uma situação destas não se volte a repetir no país.
Já esta tarde, Medina reagiu ao caso ."É uma situação que não devia ter acontecido por várias razões, a principal das quais é que Lisboa tem orgulho em ser um espaço de liberdade, de segurança, de expressão e de valorização dos direitos humanos, do direito à manifestação que tanto nos custou conquistar e que tanto prezamos", começou por explicar Medina, em declarações ao jornalistas.
O autarca defendeu ainda "há uma segunda razão que é, naturalmente, a própria causa que está envolvida". "A posição de Portugal e a posição da União Europeia tem sido, aliás, de sintonia com aquela que foi afirmada pelos manifestantes, de grande preocupação com a violação de direitos humanos, com exigência da libertação de Alexey Navalny da prisão e da situação em que se encontra", defendeu.
Quanto à origem do "erro" o presidente da CML adinata que "resultou de um funcionamento burocrático dos serviços que aplicaram nesta manifestação aquilo que aplicam à generalidade das dezenas de manifestações que acontecem no município de Lisboa sobre os mais diversos motivos".
Segundo Fernando Medina, a lei obriga a que qualquer pessoa que pretenda realizar uma manifestação informe a autarquia até 48 horas antes da sua realização, indicando o local, a hora e os dados dos promotores. Inofrmação que a câmara municipal reencaminha para a polícia de segurança pública, para o ministério da Administração Interna e, também, para as entidades onde a manifestação se vai realizar, "para que seja possível preparar o espaço para que tudo corra com normalidade e segurança".
"É aqui que há o erro da câmara", explicou o autarca. "Tratando-se desta manifestação esta informação não podia e não devia ter sido transmitida".