Centenas de papagaios-do-mar estão a dar à costa na zona oeste de Portugal. Segundo Nuno Oliveira, biólogo da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA), que está no terreno a acompanhar a situação, a maioria aparece morta, arrastada pelas ondas, mas alguns exemplares ainda aparecem vivos, embora muito debilitados.
O biólogo revelou à Renascença que, até ao momento, foram já encontradas cerca de 700 aves.
Nesta sexta-feira, a maior parte dos que deram à costa estava já morta e apenas cinco animais ainda estavam vivos.
“No total, os vivos não ultrapassam os 100 e muitos deles, quando chegarem ao Centro de Recuperação de Animais Marinhos de Ílhavo, já estarão mortos”, assinalou Nuno Oliveira.
Em relação às razões que estarão por detrás desta mortandade, o biólogo diz que ainda é cedo para ter certezas. Contudo, “os poucos animais mortos que já se analisaram aparentam estar muito magros e muito desidratados, o que terá muito a ver com as condições de tempo agressivo, principalmente no início da semana”, que tem dificultado o acesso à comida, adiantou.
Trata-se de aves que mergulham no oceano para se alimentarem de peixes.
A situação, no entanto, não será de agora, pois os papagaios-do-mar “são animais que conseguem reter bastante gordura e, mesmo que passem alguns dias sem se alimentar, conseguem sobreviver tranquilamente”, por isso “pode ter havido um conjunto de fatores que levaram a esta situação”.
Outra interrogação que os especialistas colocam é como é que esta espécie aparece, nesta altura, na costa. Nuno Oliveira explica que se trata de “uma espécie que inverna, ou seja, fora da época de reprodução, viaja para as nossas águas”, mas “o grosso da população costuma ficar mais a norte, e são aves que não se aproximam tanto da costa, ainda mais nesta época”.
Só nesta sexta-feira apareceram mais de 100 aves e “as condições de tempo dos últimos dias fazem-nos prever que ainda nos próximos dias teremos grandes números a dar à costa”. Por isso, a SPEA vai continuar a monitorizar a situação.
Os papagaios-do-mar são uma espécie recentemente classificada como ameaçada, devido à diminuição do número de peixes dos quais se alimenta, o que tem provocado uma quebra na população.
Por isso, a morte de tantos exemplares “provoca um dano significativo, principalmente neste tipo de espécies que tem grande longevidade”. A situação é ainda mais alarmante porque as aves que têm aparecido mortas são adultas e cada fêmea tem apenas uma cria por ano.