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A Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS) está a tentar criar respostas para acolher em Portugal crianças refugiadas desacompanhadas e mulheres em situação vulnerável, avançaram esta sexta-feira responsáveis da organização.
As respostas passam por criar na rede das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) casas de acolhimento para estas crianças e por tentar colocar as mulheres em risco em casas abrigo.
“A CNIS deslocou-se até à Grécia durante uma semana, identificando a situação. Há muitos casos de crianças e mulheres que precisam de ser acolhidas e em Portugal há uma boa capacidade de resposta”, refere à Renascença o padre Lino Maia, presidente da CNIS.
“Ao lançarmos a iniciativa recebemos logo cinco instituições - e estão a aparecer mais - com possibilidades de cerca de 60 lugares para crianças, e temos já uma instituição com capacidade para acolher mulheres em situação vulnerável. Outras certamente vão aparecer”, revela ainda.
A iniciativa da confederação surge na sequência desta visita que realizou em Fevereiro aos campos de refugiados na Grécia para tentar entender o que estava a bloquear o processo de recolocação, mas também perceber o que pode fazer para ajudar os grupos mais vulneráveis, disse à agência Lusa Ana Rodrigues, do Gabinete de Apoio Técnico da CNIS.
Tragédias vs desnorte
"Fomos sem uma agenda muito programada", mas "levávamos na cabeça dois aspectos, os menores e as mulheres em situação vulnerável", acrescentou o padre José Baptista, responsável pela questão dos refugiados na CNIS, organização que tem estado na linha da frente no acolhimento de refugiados em Portugal, tendo sido membro fundador da Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR).
Ana Rodrigues contou que se deparou no terreno com dramas para os quais não se está preparado: "Aquilo que vemos, por um lado, são tragédias humanas imensas e, por outro, um desnorte muito grande nas respostas" para "acudir às pessoas".
No caso dos menores não acompanhados - crianças que viajam sozinhas porque perderam os pais e não estão à guarda de ninguém - "a ideia com que ficámos, e falando com as organizações que estão a actuar no terreno", é que o sistema de protecção de menores grego "está saturado".
Ana Rodrigues sublinhou que o sistema só não está mais saturado porque os menores mais velhos vão fugindo, porque percebem que "não é uma resposta de futuro".
Relativamente às mulheres sozinhas, adiantou que foram vítimas de violência no país de origem, mas também estão em situação de risco durante o percurso, porque "não têm ninguém que as possam proteger".
Não são passíveis de acolhimento por parte da PAR (que acolhe crianças e as suas famílias) e “estão numa situação de risco que merece que tenham uma protecção especial", defendeu.
Para "aliviar a saturação que está a acontecer na Grécia", a CNIS está a procurar respostas que passam por criar na rede de IPSS que trabalham com menores em risco seis casas de acolhimento, com capacidade para 10 crianças.
CNIS estuda acolhimento em lares de infância e juventude
Outra resposta que está em cima da mesa é o acolhimento destas crianças nos lares de infância e juventude associados à CNIS, adiantou José Baptista.
Várias instituições já manifestaram essa disponibilidade, estando já a serem dados passos para a sua concretização, havendo a possibilidade de serem acolhidas 60 crianças. A médio prazo pensamos abrir para muitos mais", disse, acrescentado que estão em conversações para, com alguma celeridade, "poder pôr este serviço à disposição do Governo".
Relativamente às mulheres, Ana Rodrigues avançou que a intenção é accionar a rede solidária de casas abrigo em Portugal e articular com as autoridades portuguesa para criar canais seguros de chegada que permitam fugir das rotas de risco.
"Temos ido como muita cautela porque queremos que sejam respostas sólidas" e também vamos "dar nota de tudo o que estamos a preparar às entidades públicas que têm a seu cargo a gestão deste problema" para ter a certeza que os problemas e os riscos estão "todos acautelados".