Cardeal Marto: "Ou nos salvamos todos juntos ou nos afundamos todos juntos"
13-05-2020 - 12:23
 • Henrique Cunha

O bispo de Leiria-Fátima, cardeal D. António Marto, defendeu, na sua homilia, que a pandemia deve fazer repensar estilos de vida, modelos de sociedade e obriga os cristão a serem mais solidários. "Não se pode viver só para produzir e para consumir, para ter e para aparecer”, advertiu

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O bispo de Leiria-Fátima, cardeal António Marto, disse, esta quarta-feira, que "o vírus da indiferença só é derrotado com os anticorpos da compaixão e da solidariedade”.

D. António intervinha com a sua homilia na missa que encerrou as celebrações da primeira peregrinação aniversária do ano, marcada pela ausência de peregrinos, face à pandemia da Covid-19.

"Como cristãos, não podemos ficar indiferentes, olhar para o lado”, advertiu, sublinhando, de seguida, que “a pandemia, com a longa interrupção da vida normal, traz terríveis consequências económicas, sociais e laborais” e já está a gerar “uma pandemia mais dolorosa: a da extensão da pobreza, da fome e da exclusão social, agravada pela cultura da indiferença”.

O bispo de Leiria-Fátima reforçou que os “cristãos não podem olhar para o lado” porque vivemos “uma situação que já bate à porta das Cáritas diocesanas e de várias paróquias”, soando a “sinal de grito de alarme".

Para além de destacar o impacto da Covid-19 na sociedade,” uma situação dramática e trágica, sem precedentes, que nos convida a refletir sobre a vida”, o cardeal, que é também vice-presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, alertou para a necessidade de a sociedade ser responsável e solidária, pois “damos conta de que a nossa liberdade só pode ser exercida na responsabilidade e na solidariedade, que somos interdependentes e solidários uns dos outros e, por isso, "ou nos salvamos todos juntos ou nos afundamos todos juntos”.

D. António Marto assinalou, por outro lado, que a pandemia “é um chamamento à conversão espiritual mais em profundidade” e também “um chamamento aos fiéis cristãos, mas também a todos os homens, que permanecem criaturas de Deus”.

"Uma vida melhor na nossa casa comum, em paz com as criaturas, com os outros e com Deus, uma vida rica de sentido requer conversão", insistiu, defendendo, neste contexto, uma mudança de paradigma, que seja menos centrado no “poder cientifico-técnico, no poder económico-financeiro” ou no consumo, com novos hábitos e outro estilo de vida, mais atento à dimensão interior.

"Não se pode viver só para produzir e para consumir, para ter e para aparecer”, advertiu o cardeal Marto, lançando o desafio: "Perguntemo-nos, pois, se temos tempo para Deus, se lhe damos o lugar que Ele merece no nosso coração e na nossa vida."

“Voltaremos, Mãe querida"

O cardeal situou a celebração desta manhã em Fátima, lembrando que, pela primeira vez na história “desde 1917, neste grande dia 13 de maio” em que “o teu povo amado, Senhora, vindo dos mais diversos ângulos do mundo não pode estar aqui, em multidão, impedido pelos riscos da saúde pública. De repente, algo que nem sequer podíamos imaginar confina-nos nas nossas casas e priva-nos dos momentos mais desejados e afetuosos da vida, como este que vivemos cada ano junto ti, ó terna mãe”.

No final da celebração, o cardeal agradeceu “esta peregrinação interior, a luz, a esperança, a consolação e a paz de Cristo que levas às nossas casas” e deixou uma mensagem de confiança e o compromisso: “Voltaremos, Mãe querida.”

“Hoje fazes tu o caminho da ida; o caminho da volta fá-lo-emos nós quando superarmos esta ameaça que no-lo impede. Voltaremos - é a nossa confiança e nosso compromisso. Voltaremos juntos aqui, em ação de graças, para te cantar 'aqui vimos, mãe querida, consagrar-te o nosso amor'", rematou D. António Marto.