Um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS), no qual participou o Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP), mostra que o estireno, um solvente orgânico utilizado no fabrico de plásticos reforçados, pode causar cancro.
Segundo um comunicado do ISPUP a que a agência Lusa teve acesso, os resultados deste trabalho demonstram que o estireno - usado no fabrico de polímeros e de plásticos reforçados -, a quinolina (solvente) e o 7,8 óxido de estireno são "provavelmente carcinogénicos para os humanos".
Esta conclusão foi avançada por um grupo de trabalho da Agência Internacional para a Investigação do Cancro (IARC), da OMS, composto por 23 cientistas de 12 países, que, em março passa, se reuniram em Lyon (França), para ajudar a identificar substâncias químicas, usadas na indústria, com potencial de aumentar o risco de cancro no ser humano.
Apesar dos benefícios associados à utilização do estireno, o grupo reconhece que o aumento da sua produção e utilização e a disseminação da sua aplicação, "poderão potenciar efeitos adversos na saúde humana, dadas as suas características físico-químicas e toxicológicas", explicou o investigador do ISPUP João Paulo Teixeira, que integrou a equipa.
De acordo com o próprio, apesar da "limitada evidência científica", resultados de estudos epidemiológicos em humanos, estudos laboratoriais com animais e outros dados relevantes apontam para a probabilidade de o estireno ser carcinogénico para os humanos, pertencendo, assim, ao grupo 2A da classificação da IARC (classificação que divide os agentes em diferentes grupos, desde carcinogénicos a não carcinogénicos).
Diminuir fatores de risco
João Paulo Teixeira, referido na nota informativa, indicou que se deve evitar ou reduzir a utilização desses agentes a nível laboral, substituindo-os por produtos, misturas ou processos que "não sejam perigosos" ou que "impliquem menor risco para a segurança e a saúde dos trabalhadores".
De acordo com o investigador, a organização do trabalho,
técnicas de conceção, utilização e controlo, bem como sistemas e equipamentos
de proteção são outras das medidas preventivas (ou corretivas) que podem ser
aplicadas.
Os resultados deste estudo, que deu origem a um artigo recentemente publicado na revista científica “The Lancet Oncology”, integrarão o volume 121 da Monografia da IARC.
As monografias da IARC identificam fatores ambientais que podem aumentar o risco de cancro nos humanos, como compostos químicos, agentes físicos e biológicos ou misturas complexas, lê-se ainda na nota.
Desde 1971, a IARC avaliou acima de mil agentes, dos quais mais de 400 foram identificados como carcinogénicos, provavelmente carcinogénicos ou possivelmente carcinogénicos para humanos.