O mês de janeiro vai quase no fim e o tempo continua seco. Não chove. Sucedem-se os dias de sol. Tempo agradável para a maioria dos portugueses, que vivem em meios urbanos. E tempo certamente simpático para os turistas que começam a regressar ao nosso país.
Mas não esqueçamos o reverso da medalha: a falta de chuva agrava a seca, que já se estende praticamente a todo o território continental. Segundo afirmou há dias à Renascença a climatologista Vanda Pires, do Instituto do Mar e da Atmosfera, tudo indica que o Algarve e o Alentejo entrem em breve na categoria de seca extrema e que o resto do país evolua de seca fraca para seca moderada.
Para que tal não se verificasse, de acordo com a mesma fonte, seria preciso que chovesse durante os meses de fevereiro e março, mas não de uma forma abrupta ou muito intensa. Ora o que temos visto desde há alguns anos são secas crescentes e quase simultaneamente chuvas violentas e excessivas.
As alterações climáticas não são infelizmente uma fantasia. Temos de as enfrentar para reduzir tanto quanto possível os seus efeitos negativos, entre os quais a progressiva falta de água.
Por isso choca saber que no Algarve, não obstante a seca que ali avança, se multiplicam as plantações de abacate. Estas já ocupam uma área que é quase o dobro da área que ocupavam em 2018. O problema é que a cultura do abacate consome quatro vezes mais água do que as tradicionais laranjeiras algarvias, como a Renascença também noticiou.
Quem agora investe em culturas altamente consumidoras de água poderá obter altos lucros durante uns tempos e depois ter que desistir por falta de água. Parece que já se registam alguns desistentes.
Esses investidores podem limitar as perdas porque abandonam o terreno, depois de alguns anos de confortáveis lucros; mas os outros habitantes da Algarve, ou a maioria deles, esses permanecem. Serão eles que irão pagar o essencial do custo de um terreno seco e improdutivo.