Contrariando a interpretação que é feita muitas vezes sobre a religiosidade dos jovens, os dados mais recentes da PORDATA indicam que em Portugal sete em cada 10 jovens portugueses dizem ser católicos e apenas 22% afirmam não ter religião. O resultado confirma a tendência que tem sido apurada em estudos académicos, como o que a Universidade Católica fez para a Conferência Episcopal Portuguesa, ‘Jovens, fé e futuro’, que revelou que pelo menos metade dos jovens é crente, e destes 88% são católicos.
Para Patrícia Dias, que coordenou a investigação da UCP, os resultados provam que há muitos preconceitos e ideias feitas em relação à fé dos mais novos. “Muitas vezes podemos pensar que os jovens se desinteressam da religião, ou não são praticantes por causa de alguns temas que suscitam polémica, ou porque a Igreja deveria mudar em algumas das suas posições. Mas depois, quando perguntámos aos jovens - aqueles que se dizem crentes - porque é que não têm uma prática religiosa mais assídua ou mais concreta, eles falam de questões mais pessoais, relacionadas com falta de tempo, falta de compromisso e capacidade pessoal de manter esses compromissos."
Neste contexto, sublinha, "se calhar os jovens estão mais perto da Igreja do que aquilo que poderíamos pensar, é necessário é ajudá-los a encontrar um tempo no seu dia a dia, que é tão acelerado, para que eles consigam, de facto, aproximar-se mais da Igreja e ter uma ação mais concreta”.
De resto, o estudo da UCP aponta para uma elevada participação dos jovens católicos portugueses na Jornada Mundial da Juventude, o que mostra que é um evento mobilizador.
“A intenção de participação é muito elevada. Nós fizemos essa pergunta, e cerca de 85% dos jovens católicos - independentemente de se considerarem praticantes ou não praticantes - dizem que pretendem participar no evento, desviar o olhar dos seus ecrãs, que é muito o que eles fazem hoje em dia, e estarem presencialmente a acompanhar o que se vai passar e receber o Papa”.
Patrícia Dias espera que depois da JMJ seja possível aprofundar o estudo, numa primeira fase com um livro.
“A ideia é convidarmos jovens que tenham já um percurso profissional ou pessoal de destaque, nas várias áreas em que o estudo mostrou estarem preocupados: o ambiente, a economia, a política, a saúde, a educação, etc. Vamos convidá-los a escreverem capítulos para esse livro, refletindo sobre o estudo e também sobre as mensagens que o Papa Francisco nos trouxer durante a jornada. Portanto, o livro vai servir um bocadinho de follow-up também da JMJ”.
Esta responsável espera que seja também possível alargar o estudo, e fazer a comparação com outros países. “Já fizemos algumas divulgações do estudo em conferências internacionais e houve interesse de alguns países em reproduzirem o nosso questionário, para depois podermos comparar a prática religiosa, ver como é que os jovens olham para o futuro em contextos diferentes. Gostava muito que acontecesse”.
Espera, ainda, ser possível avançar para “uma segunda fase do estudo mais qualitativa, possivelmente através de entrevistas ou grupos de discussão”, porque “com este primeiro questionário sabemos o que é que os jovens fazem e o que pensam, mas ficam algumas dúvidas para compreender melhor porquê, o que os leva a escolher certas opções no nosso questionário e gostávamos de aprofundar essas questões”.
E como é que caracterizaria os jovens portugueses que vão receber o Papa? A investigadora fala numa juventude “que está entusiasmada, que é sonhadora, que tem esperança num futuro melhor e vontade de ajudar a construir esse futuro melhor, mas que se calhar ainda não sabe bem como o fazer”.
“Muitas vezes os jovens olham para os adultos à espera dessas orientações: como é que vamos garantir a sustentabilidade do planeta? Qual é o melhor sistema político? Qual é o melhor sistema económico? Infelizmente, os adultos também nem sempre têm as respostas, se calhar é aí que estamos a falhar, mas espero que o Papa Francisco consiga também aqui, com inspiração divina, trazer algumas dessas respostas e mobilizar, não só os jovens, mas todos, a construirmos de facto um futuro melhor”, afirma.