Como ontem foi noticiado, Merkel não se recandidata a líder do partido CSU, na sequência dos maus resultados eleitorais na Baviera e no Hesse. Merkel lidera a CDU desde 2000 e agora pretende apenas manter-se mais algum tempo como chanceler, isto é, chefe do governo de coligação com os socialistas do SPD. Mas estes podem não estar de acordo, embora para já não digam que querem derrubar um governo de coligação que levou meio ano a negociar. Pelo menos foi o que ontem afirmou Andrea Nahles, líder do SPD.
Sempre que se coliga em governos com a CDU-CSU, o SPD perde eleitores. Porque não é o partido principal da coligação. Longe vão os tempos em que o SPD tinha figuras de grande calibre, como Willy Brandt ou Helmut Schmidt, verdadeiros estadistas capazes de mobilizar a opinião pública. O socialista Martin Schultz, presidente do Parlamento Europeu entre 2012 e 2017, um europeísta entusiasta, falhou a candidatura dos socialistas europeus à presidência da Comissão Europeia e tornou-se líder do SPD. Desmentindo as sondagens iniciais que lhe eram favoráveis, o SPD ficou muito abaixo da CDU-CSU nas eleições de 2017. M. Schultz queria que o seu partido ficasse na oposição, mas teve que se resignar a coligar-se com a CDU-CSU, encarando, até, assumir a pasta dos Negócios Estrangeiros. Mas acabaria por desistir de fazer parte do governo de coligação e, também, de liderar o SPD.
Há, no entanto, um motivo forte para o SPD não abrir agora uma crise governamental em Berlim: tudo indica que teria uma votação humilhante. Ora um governo formado por dois partidos em queda gradual, mas persistente, poderá ser instável e ter fraca autoridade. Seria uma espécie de crise governamental em câmara lenta.
É uma má perspetiva não só para a Alemanha como para a UE, como ontem salientou aqui Graça Franco. Sucedem-se as crises europeias: Brexit, Itália, crescimento de partidos eurocéticos e populistas, união bancária incompleta… Uma Merkel com autoridade e força política ajudaria a impedir que essas e outras crises acabem com a integração europeia. Mas a generosa promessa de Merkel, em 2015, de abrir o país e a UE ao acolhimento de refugiados, voltou-se contra ela. A bandeira anti-imigrantes foi assumida pelos partidos populistas e, importa reconhecê-lo, por boa parte da opinião pública alemã. Por bem fazer, mal haver…
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