Apesar de ausente, André Ventura continuou a ser um centro de gravidade política no último debate para as eleições presidenciais agendadas para o próximo dia 24 de janeiro. Tal aconteceu mesmo com Marcelo Rebelo de Sousa a avisar que o fenómeno do Chega “acontecerá mais depressa de o tornarmos em pólo central da vida política”.
O atual Presidente da República criticou a ideia de Jorge Moreira da Silva de o PSD fazer um congresso para debater o Chega. Este tipo de iniciativas leva à valorização dos “laterais que querem ser figuras centrais”, disse.
O tema Chega e André Ventura foi introduzido no debate por Ana Gomes, que afirmou que o Presidente da República não deve "normalizar forças que semeiam o ódio", lembrando que no domingo à noite no jantar-comício do candidato presidencial houve ameaças a jornalistas.
O atual Presidente da República, sem nunca evocar o nome de Ventura, ripostou afirmando que em 2018 já havia chamado à atenção “para o que estava a crescer na sociedade portuguesa”, mas que “as pessoas não levaram muito a sério”.
Para Marcelo, a ascensão de André Ventura está diagnosticada: deve-se a “lacunas”, “fraquezas” e “soluções insuficientes” para resolver “os problemas das populações”.
Governo com o Chega? Marcelo exigirá acordo por escrito
Se num futuro próximo o Chega for Governo numa iniciativa conjunta com outros partidos, Marcelo Rebelo de Sousa exigirá, tal como Cavaco Silva fez em 2015 ao PS, BE e PCP, um acordo por escrito. “É evidente que a nível nacional, havendo dúvidas sobre o comportamento, aí faz sentido haver acordos escritos se essa situação vier a acontecer”, disse.
Em 2019, Marcelo disse que não tomou a mesma decisão que Cavaco Silva porque “não tinha dúvidas de constitucionalidade no apoio parlamentar das forças” que estavam incluídas no acordo. “O meu antecessor tinha dúvidas, eu não tive”, atirou.
Açores. Ana Gomes alerta para banalização de “perigo”
No último debate para as presidenciais, Ana Gomes voltou a criticar a constituição de um Governo Regional nos Açores com o apoio do Chega. “Estamos a falar de um perigo, aqui e noutras partes do mundo, viu-se no Capitólio. Não se pode banalizar, nem normalizar nos Açores e na República”, disse.
De acordo com Ana Gomes, é fundamental que o Presidente da República faça cumprir a Constituição. “Não podemos dar força aqueles que querem destruir a Constituição, o poder europeu e o que alimenta estas forças”, atirou.
Mayan não daria posse a Governo do Chega?
Tiago Mayan protagonizou um dos momentos mais esclarecedores dos debates presidenciais a dois, quando afirmou que a Iniciativa Liberal nunca faria parte de um mesmo Governo com o Chega. Esta segunda-feira, o candidato liberal deu ainda outro passo para se afastar de André Ventura e das políticas do Chega.
Se fosse Presidente da República, Mayan garantiu que não daria posse a um Governo que defenda "atentados ao Estado de direito, à Constituição, regresso da pena perpétua".
“Se naqueles compromissos [escritos e assinados entre partidos para formar maioria de Governo] estão atentados ao Estado de direito, o regresso da pena perpétua ou outro tipo de constituições que do meu ponto de vista fossem atentados à Constituição, aos direitos, liberdades e garantias dos cidadãos, esse Governo nunca seria empossado”, atirou.
André Ventura não participou do último debate para as eleições presidenciais, invocando razões de agenda. A organização do debate entendeu que “a participação à distância só seria aceite em caso de algum dos candidatos estar em situação de isolamento profilático ou de doença”.