Depois de meses de recato após o resultado eleitoral das legislativas que arredou o CDS da representação parlamentar, Francisco Rodrigues dos Santos surge no Congresso de Guimarães com um discurso a pedir a "bandeira da união" como "um acto de amor" pelo partido, com diversos avisos à futura direção e muitas farpas aos críticos que acusa de terem promovido "uma guerra interna sem precedentes".
O líder cessante do CDS garantiu aos congressistas presentes no multiusos de Guimarães que, da sua parte, "nunca houve nem nunca haverá lugar para ajustes de contas", mas entrou depois numa sessão de balanço e farpas contra os que considera que promoveram um "haraquiri partidário, onde o fogo amigo feriu de morte" o partido.
Francisco Rodrigues dos Santos assumiu responsabilidades por "erros cometidos" no consulado desta direção, em que alega ter "recebido um CDS falido" e um "legado negro" que herdou da anterior direção de Assunção Cristas.
Aqui o líder cessante do CDS tomou balanço nas críticas falando da "crise de descaracterização e deslumbramento" que "custou a perda de confiança do povo CDS e o nascimento de novas forças políticas", numa referência ao à presença do Chega e da Iniciativa Liberal no panorama político nacional.
A partir daqui foi sempre a eito, com conselhos à futura direção no "novo ciclo" que aí vem para o partido, considerando que este Congresso electivo é "a última oportunidade" de o CDS resistir ao "desaparecimento", apelando ao próximo presidente do partido que "não pode ter os seus adversários dentro do próprio partido, pois eles estão lá fora e estão identificados".
Sem nunca nomear ninguém, Rodrigues dos Santos apelou a que o partido não continue a "anular-se a si mesmo, dividido em vários quintaizinhos que se atacam uns aos outros, massacrando-se em jogos de subtração em que ninguém vence e o perdedor é inevitavelmente o CDS".
"CDS só terá futuro se não repetir as vergonhas do passado"
Num discurso pontuado aqui e ali por algumas palmas, mas sem criar emoção no Congresso, o quase ex-líder centrista aconselhou a futura direção que "o CDS só terá futuro se não repetir as vergonhas do passado" e que o partido só terá salvação se estiverem "todos no mesmo barco".
Lembrando sempre o seu próprio legado, Rodrigues dos Santos pediu que o CDS "só sobreviverá se for um partido popular e suportado pela suas bases" e "caso recuse ser um partido de grupo, ou uma associação de egoístas que se comportam como se fossem donos do partido, e que não toleram que um estranho à sua tertúlia ascenda à liderança".
Os conselhos continuaram: "Da nova Direcção espera-se que acolha quem perde, da nova Oposição pede-se que respeite quem ganhe", com o líder cessante do CDS a pedir que ninguém ceda "à frivolidade das bravatas, a investir no 'quanto pior, melhor' e na política do ódio".
Rodrigues dos Santos pediu que "que mais nenhum presidente do CDS tenha de ouvir, como eu ouvi após ter sido eleito, que o grande objectivo da oposição é destruir o presidente, mesmo que para isso tenha de matar o partido primeiro", numa espécie de vitimização por todas as críticas que ouviu ao longo do seu consulado.
As farpas aos críticos internos continuaram no ataque "aos ditos 'notáveis'" do partido por "ocuparem o espaço mediático nos jornais e nas televisões para proclamarem a irrelevância do partido ou para dinamitarem a sua liderança".
Mais uma vez sem dizer nomes, o líder centrista pediu que "que mais nenhum presidente do CDS tenha de ser confrontado com militantes do seu partido, mais ou menos destacados, a desaconselhar o voto no CDS, ou recomendar, aos eleitores, que votem noutro partido", numa referência implícita ao ex-ministro António Pires de Lima.
Rodrigues dos Santos saúda "com alegria" o regresso do "discurso da união e da construção – surpreendentemente pela boca dos que, durante demasiado tempo, proclamaram o contrário disso mesmo", referindo-se implicitamente, ao eurodeputado Nuno Melo.
Esse "sinal" Rodrigues dos Santos diz que só pode interpretar "como um salutar exercício de redenção" e que "só pode haver redenção se tiver havido dor", pedindo que se aprenda no partido "a gostar do CDS, acima dos umbigos de cada um, pois só assim os portugueses reaprenderão a gostar do CDS".
O rumo ideológico é só um, diz o líder do CDS: "a direita certa, conservadora e democrata-cristã, orientada pelo bom senso" ou ainda "a direita que une, que soma" e que permite "vencer eleições e governar".
[notícia atualizada às 13h49 de 2 de abril de 2022]