O Presidente italiano, Sergio Mattarella, iniciou esta quinta-feira consultas formais com os líderes dos partidos políticos com o objetivo de dar rapidamente ao país um novo Governo, que deverá ser o primeiro liderado pela extrema-direita em Itália desde o fim da II Guerra Mundial.
Divisões sobre política externa entre Giorgia Meloni, líder do partido Irmãos de Itália, e o partido do antigo primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi, tido como mais moderado, podem, no entanto, complicar o objetivo do Presidente de garantir que o próximo Governo seja viável e coeso.
O partido de Meloni, que apoiou firmemente a Ucrânia na sua defesa contra a invasão da Rússia, venceu as eleições italianas, mas as relações com o principal aliado de campanha têm vindo a azedar.
Na base deste desentendimento estarão recentes declarações de Berlusconi, durante uma reunião com membros do partido Força Italia, expressando simpatia pelo Presidente russo, Vladimir Putin.
Durante a campanha para a eleição de 25 de setembro, Berlusconi insistiu que era um defensor inabalável da NATO e dos Estados Unidos da América.
Na referida reunião, cujo áudio foi divulgado pela agência de notícias italiana LaPresse, Berlusconi tenta justificar a decisão de Putin de enviar tropas para a Ucrânia no final de fevereiro, dizendo que o líder russo tinha como objetivo uma incursão de duas semanas para instalar um Governo “decente e sensato” no país vizinho.
Em entrevista ao "Corriere della Sera" ontem, Berlusconi acusou a imprensa de “interpretações distorcidas e francamente ridículas sobre o meu pensamento” sobre a Rússia e a Ucrânia. E negou ter tentado justificar a invasão russa da Ucrânia.
Numa declaração na quarta-feira à noite, Meloni enviou como que um recado a Berlusconi, dizendo que não havia espaço para diferenças de política externa no Governo que pretende liderar.
“Quem não estiver de acordo com esta pedra fundamental não poderá fazer parte do Governo, mesmo que isso signifique que não há Governo", disse.
Recorde-se que Berlusconi exerceu pressões para que um assessor de topo, o ex-presidente do Parlamento Europeu Antonio Tajani, se tornasse ministro dos Negócios Estrangeiros num Governo Meloni. Não ficou imediatamente claro se a simpatia de Berlusconi por Putin fez com que esta opção fosse eliminada.
Tajani não perdeu tempo em tentar controlar os danos, dizendo no Twitter que pretende participar na reunião de sexta-feira do Partido Popular Europeu (PPE), grupo político conservador que inclui o Força Italia, confirmando o apoio pessoal e do seu partido à Ucrânia.
“Em todos os locais institucionais, sempre apoiámos a liberdade e condenámos a invasão russa”, escreveu Tajani.
Amanhã, dia em que vai reunir-se com Meloni, Berlusconi e o líder da Liga, Matteo Salvini, é que o Presidente Mattarella anunciará quem vai indigitar para formar Governo.